Reitoria persegue os estudantes do Crusp

USP — Moradia estudantil

Texto sobre a pressão exercida pela COSEAS sobre os moradores do CRUSP — Conjunto Residencial da USP.

Jornal Causa Operária, 16 jan 2006
PCO

A moradia estudantil que deveria ser uma parte do auxílio aos estudantes que ingressam na universidade é atacada pela reitoria da USP controlada atualmente pelas fundações e pelos cursos pagos na universidade. A moradia é propagandeada pela mesma como um verdadeiro fardo a ser carregado e uma anomalia. Completamente abandonada encontra-se já há muito tempo nas piores condições, sem que vagas sejam expandidas.

Para manter as decadentes condições dos pouco mais de mil e cem alunos moradores do CRUSP (Conjunto Residencial da USP), tanto em sua estrutura como as grandes dificuldades de convivência dos estudantes, as direções da Coseas (Coordenadoria de Assistência Social) têm lançado uma ofensiva contra os estudantes.

A cada ano aumentam as demandas para a moradia estudantil na USP ao passo que o número de vagas permanece igual há muitos anos. Dos 700 alunos que tentaram disputar vagas, 170 conseguiram este ano efetivar sua vaga. Já são mais de 20 anos sem uma expansão significativa do número de vagas.

Para conseguir ser morador o aluno é obrigado a passar por uma seleção controlada pelo Coseas, que regula todas as bolsas na universidade.

A seleção, que aparentemente partiria de uma avaliação sócio-econômica, é controlada pela própria universidade e de forma oculta. Ao mesmo tempo em que os estudantes são obrigados a apresentar diversos documentos para comprovar a sua renda cada estudante tem como contato uma assistente social do órgão, que avalia as questões específicas de cada aluno e estabelecem uma nota de acordo com suas características. Este processo é apontado pelos estudantes como aberto para negligências e corrupção, o que no atual estado da moradia estudantil já é dado como certo pela ampla maioria dos estudantes da USP.

Segundo a estudante Adriana, caloura de Letras e ingressante no Crusp, alojada em um quarto provisório “ Na divulgação de quem consegue ser aprovado e dos que são reprovados o Coseas não libera as notas de cada aluno. Tem muita gente que entra e que é visível que não foi por um processo de avaliação sócio-econômica. O parecer técnico é muito subjetivo”.

Outro estudante, Thiago, que cursa o 2º ano da Faculdade de Física, também denuncia “De 10 amigos meus sem condições para pagar moradia, nenhum conseguiu vaga no Crusp”.

Além de passar por uma espécie de vestibular mafioso, os estudantes ingressantes são vítimas de um total descaso. Eduardo, estudante de Ciências Sociais e morador há um ano e meio do Crusp, descreveu a chegada dos estudantes “Quem é escolhido não tem direto de ocupar livremente um apartamento. É sim obrigado a pedir aos moradores para que possa ocupar um cômodo ou mesmo a sala. A faculdade joga um estudante contra o outro. A última autonomia que os estudantes ainda tinham no Crusp era a de escolher seu hóspede. Hoje este hóspede está sendo extinto para que haja um quinto morador no apartamento.”

O estudante é ainda obrigado a passar por um funil durante os anos de moradia para garantir sua permanência no prédio. “Cada um tem que cumprir 80% dos seus créditos no curso para continuar no Crusp, senão pode ser ameaçado de expulsão”, conta Thiago.

A seleção de quem é ou não do Crusp, de quem seria um hóspede regular (critério aprovado pelo Coseas), de quem seria aluno ou não e a fiscalização do andamento do curso, ou seja, as diversas formas de intervenção direta da universidade na vida do estudante, têm servido para colocar em prática o processo de sucateamento e ataque da burocracia universitária contra o Crusp.
Os apartamentos que teriam espaço originalmente para três pessoas, estão em grande parte ocupados por mais de cinco estudantes, na maioria moradores e não hóspedes.

O estabelecido na norma atual do prédio é que o hóspede não pode ser mais admitido por afinidade. Isto porque a universidade já amontoa os moradores em metade do espaço que seria de direito dos estudantes.

Junto ao sucateamento é colocado em prática o despejo de estudantes dos prédios porque estes “não atenderiam a determinadas normas”.

Um dos atuais ameaçados, Everton Talpo, estudante de Geografia, está para perder o direito à moradia, por não ter cumprido o tempo mínimo de conclusão de curso. Everton denuncia “O tempo ideal estabelecido para o curso de Geografia é de cinco anos, sendo que qualquer estudante normal pode se formar em até oito anos. Várias pessoas estão sendo expulsas do Crusp por não concluírem seus cursos no tempo mínimo”.

A repressão é permanente para estabelecer a ordem do sucateamento e a reitoria tem participação ativa nisto. O Coseas é um órgão antidemocrático assim como todos os departamentos da USP, contra qualquer nível de decisão dos alunos.
Por começar, o Regimento do Crusp aprovado por este órgão, permanece o mesmo desde 1997. Seus tópicos não foram decididos pelos alunos, mas pela diretoria do Coseas que é permanentemente indicada pela reitoria. Os estudantes tiveram 15% de participação nos votos.

Segundo Márcio Henrique Queiroz, membro da diretoria do Amorcrusp (Associação de Moradores do Crusp) “ O regimento permaneceu, e com várias coisas absurdas, como a proibição de geladeiras nos apartamentos para economizar energia, a proibição de certas pessoas de sequer freqüentar o Crusp por medida disciplinar, devido a processos internos levados a frente pelo Coseas”.

Na prática, os estudantes, desde a sua entrada no Crusp é cerceado de todas as formas e tratado pela reitoria como um cidadão de segunda classe.

Eduardo, estudante de Letras, morador desde 2003 é um deles. “Os policiais entram no Campus para despejar pessoal, e isso acontece aos fins de semana. A mesma coisa acontece com as festas, que são reprimidas muitas vezes pela polícia”.

“A perturbação da ordem é estipulada por eles. O porteiro anota, as ligações, saídas de cada morador e quem são os amigos dos estudantes que entram em contato”, denuncia Everton. Este que é responsável por um zine, junto com outros moradores, procura divulgar os fatos para outros estudantes.

A situação é ainda pior para os moradores em processo de seleção. Adriana já sente na pele o desprezo do Coseas “O alojamento é super-vigiado e os estudantes são tratados como se estivessem de favor. Não podem fazer barulho e receber ninguém que não seja estritamente controlado pela portaria. Nos ameaçam dizendo que somos estudantes provisórios”.

A situação do Crusp é mais uma demonstração dos ataques sofridos pelos estudantes, que são fruto da destruição do ensino público, da ofensiva das reitorias da universidade para que a situação de decadência da universidade pública permaneça por tempo indeterminado.

Add a New Comment
or Sign in as Wikidot user
(will not be published)
- +
Unless otherwise stated, the content of this page is licensed under Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 License