Vinte anos sem expansão de vagas

Descreve alguns dos problemas do CRUSP, como a falta de vagas, a superlotação e o regime opressor implantado pela COSEAS

Causa Operária, 27 mar 2007
PCO

A criação de uma nova secretaria do ensino superior, aprovada por José Serra (PSDB) no início do ano, que acaba com a já parcial autonomia universitária conquistada após a ditadura militar, terá a função de, novamente, colocar a decisão do futuro das verbas da universidade nas mãos do governo do PSDB, passando inclusive por cima da burocracia universitária.

O governo terá como primeiro alvo, dentro das universidades públicas, a assistência estudantil, como as bolsas-alimentação e a moradia.

Além do decreto, o corte de verbas entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão, colocará ainda mais lenha na fogueira de um dos problemas sociais mais graves da universidade. As moradias estudantis estão na linha de frente do caos social das universidades públicas.

Na USP, por ano, se inscrevem de 700 a 800 estudantes no programa de moradia estudantil dos quais, de 100 a 150 apenas conseguem uma vaga por ano e pouco mais de 150 ganham bolsas no valor de R$ 200,00, bolsas estas que são tratadas pela universidade como supérfluas, e que estão sempre ameaçadas com o corte de verbas.

Há, atualmente, apenas 1,1 mil alunos instalados no CRUSP (Conjunto Residencial da USP), quase o número de inscritos de todos os anos. Os estudantes já esperam, há mais de 20 anos, pela expansão de vagas.

“Submundo” do CRUSP

Como já relatamos em reportagem no ano passado, as reitorias respondem ao caos instalado nas universidades com a repressão aos estudantes e o assédio moral da burocracia universitária.

A primeira fase para conseguir ser morador é a seleção controlada pelo Coseas (Coordenadoria de Assistência Social), que regula todas as bolsas na universidade.
A seleção partiria de uma avaliação sócio-econômica e é controlada pela própria universidade sequer divulga as notas dos estudantes.

Segundo a estudante Adriana relatou para o jornal Juventude Revolucionária, “na divulgação de quem consegue ser aprovado e dos que são reprovados o Coseas não libera as notas de cada aluno. Tem muita gente que entra e que é visível que não foi por um processo de avaliação sócio-econômica. O parecer técnico é muito subjetivo”. Adriana é caloura de Letras e ingressante no CRUSP, alojada em um quarto provisório.

Os estudantes esperam o resultado da avaliação nas piores condições possíveis.
“Trinta e seis desses inscritos aguardam o resultado do processo seletivo morando embaixo das arquibancadas do estádio de Centro de Práticas Esportivas da USP (…) não tem cozinha, lavanderia, salas de estudo ou banheiro privado” (Jornal do Campus, março de 2007).

Os estudantes ainda relatam:
"Às vezes você quer ler até mais tarde, mas a luz não pode ficar acesa, então vamos no corredor (…)"

Como o lugar não tem lavanderia ou cozinha, a opção é usar o CRUSP, mas é ruim, tem que carregar o balde, a roupa, ficar esperando secar.

Além destes, existe no subsolo de um dos blocos da moradia mais de 60 estudantes provisórios que esperam sua vaga em quartos coletivos e em condições ainda piores que os quartos regulares superlotados.

A média de estudantes, na moradia, é de cinco por apartamento, quando deveria ser de três, e mais um hóspede. A reitoria vem a expulsando hóspedes e até estudantes, impedindo visitas, estabelecendo critérios de notas etc. tudo para gastar o menos possível com os estudantes.

A bolsa distribuída pela universidade já foi comprovada, inclusive, mais cara que a manutenção do estudante na moradia. Um estudo dos estudantes da moradia da USP São Carlos, que controlam a coordenação da assistência estudantil naquela faculdade, aponta a expansão de vagas como menos custosa que a manutenção de bolsas. As bolsas são usadas pelo Coseas sem nenhuma transparência com o real objetivo de dividir os estudantes, separá-los dos do CRUSP. Evitando a concentração cada vez maior de estudantes, o Coseas e a reitoria esperam evitar, na realidade, mobilizações massivas dos estudantes.

O Coseas tenta desvirtuar completamente seus interesses, explicando cinicamente, nas palavras da coordenadora de assistência estudantil, Rosa Maria Godoy, que “a bolsa é mais educativa, pois o estudante faz com ela o que quiser” e ainda que “não seria interessante investir na expansão da moradia pelo isolamento dos cruspianos com relação ao resto da cidade” e ainda, e o pior de todos, que teria que fazer um “controle de pessoas da mesma faixa etária” para que os estudantes não morem sempre “com pessoas da mesma geração” o que “afetaria a qualidade de vida dos estudantes fazendo surgir a depressão e casos de suicídio (Idem).

Na realidade, a universidade prefere as bolsas à construção de moradias pois é muito mais fácil retirar, mais para a frente, as bolsas dos estudantes do que destruir as moradias estudantis.

Até PM no CRUSP

A repressão é permanente no CRUSP. O Coseas não dá apoio algum aos estudantes, pois é um órgão antidemocrático assim como todos os departamentos da USP, contra qualquer nível de decisão dos alunos.

Na prática, os estudantes, desde a sua entrada no CRUSP, são cerceados de todas as formas e tratados pela reitoria como um cidadão de segunda classe.

Eduardo, estudante de Letras, morador desde 2003 é um deles. “Os policiais entram no Campus para despejar pessoal, e isso acontece aos fins de semana. A mesma coisa acontece com as festas, que são reprimidas muitas vezes pela polícia”.

“A perturbação da ordem é estipulada por eles. O porteiro anota as ligações, saídas de cada morador e quem são os amigos dos estudantes que entram em contato”, denuncia Everton. Este que é responsável por um zine, junto com outros moradores, procura divulgar os fatos para outros estudantes.

Adriana já sente na pele o desprezo do Coseas: “o alojamento é super-vigiado e os estudantes são tratados como se estivessem de favor. Não podem fazer barulho e receber ninguém que não seja estritamente controlado pela portaria. Nos ameaçam dizendo que somos estudantes provisórios”.

Pelo controle estudantil da moradia.
Pelo apoio à greve geral dos estudantes das estaduais com ocupação!

Os estudantes atualmente não têm nenhuma autonomia e controle sobre sua própria moradia. Para começar, o Regimento do CRUSP aprovado pelo Coseas, permanece o mesmo desde 1997, quando foi alterado pela última vez. Seus tópicos não foram decididos pelos alunos, mas pela diretoria do Coseas que é permanentemente indicada pela reitoria, o que é um resquício da ditadura militar. Os estudantes tiveram 15% de participação nos votos.

Somente com o controle efetivo do espaço, do regimento, da seleção e da assistência-moradia pelos estudantes, os únicos interessados, é que poderá existir o atendimento de fato dos interesses dos estudantes.

Defendemos a formação de um conselho constituído por vários representantes de cada bloco para organizar a moradia estudantil.

Pela construção imediata de mais casas, que possam atender a todos que necessitam! Que o conselho de estudantes defina a quantidade de casas necessárias a serem construídas.

Somente uma greve dos estudantes com ocupação da universidade poderá pressionar o governo a aceitar as reivindicações dos estudantes.

Somente a demonstração de força e a pressão contra o governo e a reitoria poderá reverter a situação das moradias igualmente destruídas na Unesp e na Unicamp e conseguir moradias para todos.


Texto publicado originalmente no seguinte endereço:
http://www.pco.org.br/conoticias/juventude_2007/27mar_crusp.html

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