Por Diogo Frizzo1
Ocupa! Essa é a palavra de ordem entoada por centenas de estudantes nas assembléias e plenárias realizadas na USP desde a ocupação da Reitoria da Universidade, no dia 3 de maio.
A ocupação, motivada pela ausência da reitoria em um debate público e a posterior recusa em protocolar um documento com reivindicações estudantis, tomou grandes proporções e se tornou o centro do debate na comunidade uspiana.
Em princípio, os estudantes tinham uma única reivindicação: eles queriam uma audiência pública para debater os decretos do governador José Serra (PSDB) que ferem a autonomia universitária. Como a reivindicação foi aceita imediatamente pela reitoria, alguns setores sentiram a necessidade de apresentar uma pauta mais consistente, como forma de manter o movimento de ocupação. Esse foi o inicio o processo. É preciso lembrar que, historicamente, ocupações como esta sempre foram feitas para pressionar a reitoria a abrir negociação com os estudantes.
Desta vez a negociação foi mais tranqüila. Talvez, por isso, a precipitação de setores estudantis em querer estender o movimento com novas reivindicações.
Inexperiência ou oportunismo?
Desde que se iniciou a ocupação, a pauta sofreu modificações constantes, não para enxugá-la e garantir conquistas concretas, mas, sim, para adicionar pontos e reivindicações que muitas vezes demonstram uma intransigência por parte de setores do movimento que se intitulam a “direção autônoma” da ocupação.
As plenárias congregam muitos estudantes, fato que há tempos não acontecia no movimento estudantil, mas se perdem em questões secundárias, deixando para o final (depois de horas de discussão) o encaminhamento de questões centrais e aprovando resoluções muitas vezes controversas com um quorum muito reduzido, o que possibilitaria um questionamento sobre a legitimidade do que foi aprovado.
Partidos e os “Independentes”
Os partidos, em especial o PSOL e o PSTU, que insuflaram a ocupação, acreditavam que conseguiriam dirigir o processo e, com isso, talvez trouxessem novos militantes para suas fileiras. Mas foram percebendo que a cada dia isso se tornava mais difícil, primeiro o PSOL e depois o PSTU. O discurso antipartido domina o clima da ocupação. Não importa o mérito ou pertinência do debate que se tenta fazer: se o grupo é de alguma sigla partidária, já se torna alvo dos chamados “independentes”.
Com um discurso fácil de guerra aos partidos, afirmando que estes “manobram” as plenárias e impedem a participação dos estudantes, alguns setores se organizaram e tentam impor a linha da ocupação. Com isso aplicam seu jeito “independente” de fazer movimento estudantil: plenárias infindáveis em que as resoluções são aprovadas depois de esvaziadas; o patrulhamento ideológico na base do chavão “partido é mal”; a liberdade (somente para os independentes) de expressão; e, por fim, a lógica do “eu” me represento, que significa o não respeito às deliberações coletivas.
Setores esquerdistas como PCO e Estratégia Revolucionária não merecem muita analise, pois sempre operam na lógica do quanto pior melhor.
A ocupação
Após 20 dias, e com a ameaça de “desocupação” pela PM e o batalhão de Choque, o movimento chega a um dilema: manter a ocupação ou sair do prédio?
Os que insistem em defender a manutenção da ocupação se dividem em três grupos: os que acreditam que é possível avançar mais e que os pontos apresentados pela reitoria são insuficientes, pois a ocupação é um espaço de referência e, ao desocupar esse espaço, haveria desmobilização do movimento; os que querem ter um enfrentamento com a tropa de choque; e os que criaram um vínculo sentimental com a ocupação.
Partem da idéia da “última batalha”, do “agora ou nunca”. Muitos chegam a estar convencidos que se trata um novo “maio de 68”, só que em 2007. Não compreendem que a ocupação é um instrumento político, mas tem seu limite, seu ápice, e que, ao insistir em querer mais do que o necessário, o movimento se desgasta e se volta contra si próprio.
Cria-se uma falsa dicotomia, entre os que defendem a permanência da ocupação e são de “luta”, e os que defendem a desocupação e são os “pelegos”. Isso não está em discussão. É preciso pensar o que é melhor para o movimento, o que avança e aglutina.
Insistir na ocupação é se negar a perceber que pode ser difícil avançar mais do que já se avançou e que a reitoria chegou ao seu limite de concessão. Além disso, esse é o máximo que o movimento já conseguiu no último período. Colocar isso a perder, em troca de um enfrentamento com o choque, saindo sem ganho da ocupação, é desarticular o movimento.
A ocupação cumpriu o seu papel de organizar os estudantes e chamar a atenção da sociedade para a situação da universidade pública e dos decretos. O debate está na mídia e a pauta de reivindicações foi parcialmente aceita pela reitoria. O momento agora é outro: avançar para a construção da greve unificada entre alunos, funcionários e professores!
Do desfecho
O desfecho da ocupação pode acontecer nos próximos dias. O primeiro prazo venceu na terça-feira, dia 22, foi estendido até amanhã (24) e ainda podem haver novas negociações e novos prazos.
Mas o movimento precisa ter disposição de fato para negociar com a reitoria, priorizar pontos, enxugar a pauta, isso é, não continuar a incluir, a cada nova assembléia ou plenária, novas reivindicações (no primeiro momento era 5 pontos; agora são 17, sem contar os subitens).
Porém, o cenário de intransigência que se constrói, a partir do posicionamento de alguns setores, pode gerar uma grande derrota para o movimento estudantil, com nenhuma vitória e com a punição de muitos estudantes que participaram da ocupação, cenário que não ajuda em nada.
É possível sair da ocupação com um movimento organizado e em ascensão, com vitórias, capaz de construir uma greve com amplo apoio da sociedade e com uma grande participação estudantil, necessária para derrotar os decretos do governo Serra. Mas para isso, às vezes, é preciso falar o mais difícil, dizer que a ocupação já chegou ao seu limite e que continuar é um erro. Sair de mãos vazias não ajuda o movimento. Atrapalha, desmobiliza, desmotiva. Sair com conquistas reais agrega, mobiliza, impulsiona.
Por isso a palavra de ordem a partir de agora deve ser: desocupa!
[Fonte: PT — Diretório Nacional, 23/05/2007]