30 anos da invasão à PUC-SP

Comentários sobre os 30 anos da invasão da PUC-SP pela PM de São Paulo em 1977
CMI, 21/09/2007 às 14:24

Não se cala a consciência de um povo

A frase estampada na placa oferecida pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto à PUC, após um ano da invasão da PUC-SP pela polícia militar da ditadura, comandada pelo então secretário de Segurança Pública, Erasmo Dias, se faz presente mais do que nunca em dias como estes, em que tudo o que entrou para a história tende a ser esquecido com certa freqüência por aqueles/as que que um dia fizeram parte desta história.

30 anos após a fatídica noite de 22 de setembro de 1977, em que cerca de 2000 estudantes se reuniram nas imediações do Tuca — teatro da PUC-SP —, para tanto protestar em repúdio ao cerco policial que impedira a realização do III Encontro Nacional dos Estudantes no dia anterior quanto para comemorar a realização clandestina do evento nas dependências da PUC-SP naquele dia, vemos novamente a autonomia universitária ser quebrada e sob o comando de alguém que já esteve do lado dos estudantes e hoje parece que se esqueceu disso.

Comentários

Josué Cesídio de Carvalho

22/09/2007 22:01
Hoje, 22 de setembro de 2007, folheei 3 grandes diários da imprensa brasileira e nenhuma linha fazia referência a uma das maiores agressões que uma instituição voltada para a educação sofreu neste país. Digo assim porque eu estava lá, naquela noite monstruosa, de triste recordação. Lembro e recupero as imagens na minha mente sempre que o assunto vem à baila. De um lado jovens com suas bolsas de couro cru correndo atrás de uma saída que os levasse para fora das imediações da Monte Alegre, de outro aqueles monstrengos, liderados por Erasmo Dias, figura triste mal acabada, vociferando, espumando, mais parecia um cão louco, travando uma luta de estranha desigualdade. Palavras de ordem como: Abaixo a Ditadura, Por Liberdades Democráticas e tantas outras que fogem a mente, pois só me recordo das imagens de terror que aquelas criaturas camufladas com cassetetes elétricos que descarregavam choques naqueles jovens democratas, comunistas, socialistas, subversivos pelas palavras e não pelos atos, pois não derrubaram nem destruíram nada a não ser o status quo de alguns defensores de um aparato policial ridículo com brucutu à frente, parecendo um bando de alucinados, estas palavras de ordem, portanto tinham um poder tão grande frente a estas pessoas alucinadas que não sabiam o que estavam a fazer, e naquela noite, lembro como se fosse hoje, no asfalto frio do patio daquele quartel da av. Tiradentes, lotado de estudantes, todos muito perigosos, sentado no chão, esvaziando mochilas com textos incrivelmente atuais até hoje, olhando na penumbra da noite três vultos que se revezavam com metralhadoras na mão, passando daqui prá lá de lá prá cá, gritos forçados, viaturas cruzando, e eles impassíveis assustando um bando de crianças-jovens que queriam liberdade. Aqueles três de lembrança triste e histórico duvidoso estavam ali: fleuryerasmodiasromeutuma os mosqueteiros de um reino em desgraça. Um ainda hoje se arrasta entre os quarenta, desculpe, oitenta e uns que defendem um outro que se escuda frente a presidência de uma instituição falida e que não representa nada. Que triste pensar que estas pessoas existiram e ainda existem neste Brasil que tem seguranças para enfrentar um pobre coitado que vem ou vai de Pindobaçu para Brasília querendo ver o presidente e dizer que a corrupção está solta na Bahia. Triste Bahia, triste Brasil. Vivam os que estavam do lado de cá daquela noite. Eu estava lá. Fui indiciado, fui anistiado, não esqueci nada do que aconteceu nestes anos todos. Brasil, não esqueça sua História real!

30 anos da Invasão da PUC

Virginia Finzetto 23/09/2007 10:01
Nunca pensei que eu, uma das estudantes vítimas de queimaduras de bomba de fósforo branco, pudesse sentir hoje saudades daquele ano de 1977. Não exatamente da barbaridade do que aconteceu na PUC, porém dos sonhos e das bandeiras que empunhávamos no Movimento Estudantil, com tanta garra, por um Brasil mais livre, mais democrático, mais justo, mais ético, menos corrupto etc. etc. etc. e tudo de +++ , que um bando de jovens na faixa dos 20 anos poderia sonhar e desejar.

Lá se foram trinta anos, e eu ainda lembro do terror da violência, do cheiro das bombas, daqueles coqueiros pegando fogo, do estacionamento lotado de estudantes assustados e intimidados por policiais de lenço amarrado no rosto (para não serem reconhecidos como "estudantes profissionais" que ficavam espionando nossas Assembléias), gente chorando, eu morrendo de dor, o HC, o DOPS…

Sinto nostalgia, sim. Mas hoje o que me dá é uma grande tristeza. Vejo, após essas três décadas, que muitas daquelas bandeiras ainda estão por ser conquistadas. Mas por quem? Quem vai poder trazer de volta a esperança e a confiança no futuro?

Onde estão os homens de palavra, a honra e a dignidade do ser humano e principalmente as lideranças políticas nas quais acreditávamos tanto até então?

Neste país de libertinagem, violência e falta de vergonha na cara, essa invasão e tantas outras lutas bem-intencionadas estão aí, na memória de alguns, encobertas por outros e esquecidas por muitos. O sonho ficou no passado e o dia-a-dia nos cobra uma atitude para resolver nosso pesadelo crônico e persistente.

Abraços
Virginia Finzetto

Parabéns aos que resistem

Marcelo Socialista 27/09/2007 02:59
Eu tinha 4 anos de idade quando ocorreu esse ato pavoroso de terrorismo de estado comandado pela inqualificável criatura Erasmo Dias. Logo, não tenho lembrança alguma da época. Só sei o que li sobre isso anos depois.

Infelizmente, faltam Josués e Virgínias hoje em dia pra lutar pelo que é certo e justo. Sou militante sindical e sei o que digo: é difícil lutar pelos direitos da maioria quando esta maioria está apartada (em alguns casos, faz questão de se apartar). É como cuspir no olho de um gigante tentando vencê-lo.

Apesar de tudo, cada um deve cumprir seu dever sem esmorecer, pois nada é para sempre e esse estado de coisas de injustiça e penúria social um dia vai terminar. Com nossas ações pelo bem comum, podemos ter a certeza e a satisfação de que estamos fazendo com que esse dia chegue um pouco mais rápido!

Parabéns aos que resistiram na PUC há 30 anos, e àqueles que resistem hoje. E meus pêsames ao Erasmo Dias e seus seguidores direitosos reacionários.

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