Repercussão do artigo: UNE e Rede Globo (Fundação Roberto Marinho) devolvam o dinheiro do povo brasileiro

Blog "Seja realista: peça o impossível", Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007
Por Otávio Luiz Machado

Está sendo muito legal a repercussão do meu artigo no sítio do Observatório da Imprensa. O título é “Mídia, movimento estudantil e os recursos públicos” .
O endereço é o seguinte:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=449FDS009

Lancei para o debate o tipo de reconstituição histórica que está sendo realizado pela associação entre a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Fundação Roberto Marinho). E sobretudo a quem interessa o Projeto Memória do Movimento Estudantil (MME), que é pago com recursos públicos. Vejam o sítio do Ministério da Cultura (Minc):
http://www.cultura.gov.br/salic4/index.php?pronac=030926

OS DADOS DO PROJETO DA UNE NO MINISTÉRIO DA CULTURA:
Nome do Proponente: Fundação Roberto Marinho
Síntese do Projeto: Recuperação e preservação da memória e da história da UNE. Criação de acervo sobre a história do movimento estudantil através de um site na internet, CD-ROM e gravação de um vídeo digital com depoimentos de dirigentes e militantes de diferentes épocas.
CAPTAÇÃO TOTAL A FAZER: 3.062.134,50
CAPTADOS: 2.377.496,58

Se a UNE e a Fundação Roberto Marinho pretendem fazer um trabalho que não interessa à sociedade brasileira, é natural que eles paguem a conta. E o melhor seria devolver os recursos públicos já consumidos por algo que produziram que não diz coisa com coisa para a história do movimento estudantil

Não acrescentei ali que, além de destacarem apenas alguns aspectos que mais interessam ao atual grupo que comanda a UNE, a própria propaganda do mesmo grupo a frente da entidade há cerca de uma década e meia também acabou sendo objeto do projeto, o que significa um claro propósito de propaganda política com uso de recursos públicos. Pois o que tal grupo teria a ver com a "história da UNE"? Qual a justificativa ao coletar o depoimento de Gustavo Petta e outras figuras do mesmo grupo? E qual o motivo de num universo de cerca de 50 gestões da UNE até o presente, focar em quase 10 gestões atuais ligadas ao mesmo grupo mandatário da UNE?

O que vemos não é a produção de conhecimento histórico sobre a UNE, mas apenas uma propaganda sobre o movimento estudantil.

A justificativa para apoiar a realização de novos trabalhos não se cumpriu, pois o MME não está disponibilizando seus "produtos" às bibliotecas públicas, a escolha de 100 entrevistados apenas não abrange a rica história da UNE e a campanha de arrecadação de documentos não cumpre o papel de socialização do conhecimento, pois buscou tentar concentrar no Rio de Janeiro (argumentando numa futura sede da UNE) a documentação sobre o movimento estudantil. Como incentivar novos estudos se os estudantes de iniciação científica ou mesmo de trabalhos de final de curso de graduação teriam que ir até o Rio de Janeiro para ter acesso à documentação de sua Faculdade, Universidade ou União Estadual de Estudante (UEE)?

É difícil imaginar o conhecimento histórico sobre a história das entidades sem a composição dos arquivos dos Diretórios e Centros Acadêmicos, dos Diretórios Centrais de Estudantes e das Uniões Estaduais de Estudantes (UEEs). A UNE poderia ter feito uma campanha na Rede Globo incentivando os ex-estudantes a doarem documentos a tais entidades.

Como eles explicam que uma ata de um DCE de uma importante universidade estejam de posse deles e não da própria entidade ou órgão da universidade em questão?

Mas estamos ensinando a eles no momento como realizar um trabalho sobre a memória do movimento estudantil. Espero que eles copiem a idéia (não ficaremos chateados), pois é bom para a memória da UNE, inclusive. Por exemplo, para o livro que lançamos intitulado Movimento Estudantil Brasileiro e a Educação Superior, que foi organizado por Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado (Editora UFPE) — está sendo vendido pela Livraria Cultura (Recife, São Paulo, Brasília, Porto Alegre), Livraria Saraiva (Recife), Livraria Imperatriz (Recife), Livraria Poty (Recife) e Livraria UFPE (para todo o país) — também produzimos um cd, que poderá ser pedido ao Projeto pelos interessados em ter acesso a boa parte da documentação com os quais os autores produziram seu texto ou mesmo documentos de apoio sobre a questão tratada. Os cds são:

  1. CD: "Repúblicas de Ouro Preto e Mariana: Trajetórias e Importância" (PROENGE);
  2. CD: "70 Anos da UNE: O que já sabemos? O que precisamos saber?" (PROENGE).

Estamos obtendo ótimos resultados ao reconstituir a história do movimento estudantil das Escolas de Engenharia do Brasil ao adotarmos o cd como mídia de divulgação de textos e documentos, inclusive publicando livros completos já esgotados sobre as entidades estudantis. Torna-se, assim, um trabalho muito barato e que facilita o acesso a mais gente interessada. E o melhor: sem precisar de milhões de reais de recursos públicos para a sua produção e difusão. Vamos pegar alguns textos do livro:

  1. O contexto da Universidade do Recife do início dos anos 1960 até o golpe de 1964 (Luiz Costa Lima). Temos no CD vários documentos sobre o CPC (Centro Popular de Cultura da UNE) e do Movimento de Cultura Popular (MCP);
  2. Memória do Movimento Estudantil no Brasil (Lauro Morhy): temos no CD vários documentos sobre a gestão de José Serra enquanto Presidente da UNE e do contexto histórico em torno do golpe militar de 64;
  3. Rebeldia, contestação e silêncio: o movimento estudantil em 1968 (Simone Tenório Rocha e Silva): temos no CD várias teses defendidas no XXX Congresso da UNE, assim como alguns documentos em torno do movimento estudantil da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP)
  4. Os estudantes e o problema universitário nos anos 1960 (Maria de Lourdes Fávero): temos no CD várias teses completas dos estudantes ou das bancadas que apresentaram nos seminários nacionais de reforma universitária no início dos anos 1960, bem como documentos citados pela autora, como é o caso da "Carta do Paraná: resoluções do II Seminário Nacional da Reforma Universitária" (Curitiba, março de 1962), do documento "Luta atual pela reforma Universitária" (1963) etc.
  5. Nos textos “Reflexões sobre a condição estudantil” (Michel Thiollent), “A Universidade e as Repúblicas de estudantes: o caso de Coimbra, Portugal” (Aníbal Frias) e “Casas de Estudantes e Educação Superior no Brasil: aspectos sociais e históricos” (Otávio Luiz Machado) que podem refletir a experiência em repúblicas e em casas de estudantes no Brasil (e em Portugal) — sobretudo na cidade de Ouro Preto —, temos um conjunto de textos sobre a história de cada república de Ouro Preto, além de documentos sobre a Casa do Estudante de Ouro Preto (entidade criada em 1946) — sobretudo a resposta dos Estados Unidos a um pedido da entidade. Vários números do Jornal O Martelo, Relatórios de gestões do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto (por exemplo, os de 1962, 1965 e 1969), textos referentes à reconstrução da UNE e da UEE-MG, incluindo o famoso discurso de Doralina Rodrigues (ex-presidente da UEE-MG e ex-diretora da UNE) no congresso de reconstrução da UEE-MG podem também ser encontrados no cd, além de textos relacionados à HISTÓRIA DA UNE estão completos no próprio cd.

Na próxima coletânea intitulada “Juventude e Movimento Estudantil: ontem e hoje”, organizada por Luís Antônio Groppo, Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado, também disponibilizaremos um cd com vários documentos sobre a história do movimento estudantil, a maioria deles de dificílimo acesso. Incluiremos dois livros no formato eletrônico:

  1. "História da UNE" (organizado por Nilton Santos);
  2. "Memorex: elementos para uma história da UNE" (organizado por Marianna Monteiro e Ary Costa Pinto).

É assim que recuperaremos a memória do movimento estudantil. É assim que geraremos um DEBATE INTELECTUAL sobre o tema. É assim que a sociedade brasileira poderá conhecer um pouco da história da UNE. É assim que estimularemos novos trabalhos, incluindo o incentivo para que todas as entidades estudantis brasileiras comecem um trabalho nesse sentido. Creio que o investimento de recursos públicos no Projeto Memória do Movimento Estudantil (MME) é algo muito complicado, pois a sociedade está pagando muito caro para ter o acesso à história da UNE. E para ter acesso ao pouco que privilegiaram. O pessoal do Projeto Memória do Movimento Estudantil (que já recebeu cerca de dois milhões e meio de reais) deveria fazer o mesmo que o Governo Federal e disponibilizar seus produtos na "internet". É o caso do livro "Direito à Memória e à verdade" que pode ser acessado no seguinte endereço:
http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/.arquivos/livrodireitomemoriaeverdadeid.pdf

Um abraço, Otávio Luiz Machado.

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