Honestino Guimarães: um verdadeiro estudante do povo!

Fruto da luta de classes:

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Honestino Monteiro Guimarães, nasce em Goiás, na pequena cidade de Itaberaí em 28 de março de 1947. A partir de 1960 sua família muda-se para os arredores de Brasília, uma capital em construção.

Em 1962 Honestino Guimarães era mais um jovem estudante secundarista que vivia uma época de grande agitação política, aflorava a luta de classes no meio estudantil. Honestino cursava o 1º ano cientifico no Centro de Ensino Médio “Elefante Branco”, escola pública de Brasília que era chamado ironicamente de “Elefante Vermelho”, devido intensa participação política de seus estudantes e professores. Nesse período o movimento estudantil secundarista no Distrito Federal conduzia grandes mobilizações em defesa da escola pública, contra o aumento das passagens do transporte público, e por democracia nas escolas e no país.

Os estudantes organizavam debates, manifestações, e intensificavam as agitações políticas de forma massiva e combativa. Numa dessas manifestações, em que estudantes se rebelavam contra o aumento das passagens, reprimidos, pararam o trânsito, quebraram um ônibus, agiram com vigor e combatividade, a polícia feriu um estudante à bala, a rebelião se intensificou, chegou-se a ponto de haver intervenção de tropas do exército — isto em 1963, sob o “democrático” governo de João Goulart.

Por essa época Honestino Guimarães iniciava sua militância, ainda não se destacava tanto pela sua incipiente atuação política no movimento estudantil, mas por ser um dos mais brilhantes estudante daquele centro de ensino, era participativo, dedicado e responsável com seus estudos.

No ano de 1964, com o golpe militar, Honestino que já cursava o 3º ano científico no CIEM (Colégio Integrado de Ensino Médio, anexo à UnB) inicia sua militância clandestina na Ação Popular — AP, organização política surgida no campo democrático católico que nega, após o golpe de abril, sua postura reformista e integra o campo revolucionário. O desejo de um mundo melhor, justo e sem exploração, geralmente presente em toda juventude, o desejo da transformação, somados com uma grande sede de conhecimento e contrapondo à realidade social, conduziu Honestino à militância política.

Preso por participar de pichações de denúncia!

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Em 1965 Honestino entra na Universidade de Brasília no curso de Geologia (foi 1º colocado no vestibular da UnB), onde se destacaria como dirigente estudantil. A sua militância diária, honesta, a confiança recíproca que tinha com a massa estudantil e sua atuação incessante e combativa, passa a fazê-lo alvo da repressão política. “A UnB foi a universidade mais perseguida pelo regime militar. Invadida pelo Exército cinco vezes: em 1964, 65, 68, 77 e 84”1. Honestino é preso em janeiro de 1967, acusado de organizar e participar de pichações de denúncia contra o governo de Costa e Silva. Novamente é preso em fins de 1967, fora denunciado como participante de um suposto movimento guerrilheiro em Itauçu (GO), cerco que atinge a AP em Goiás e no Distrito Federal prendendo vários revolucionários. Ainda na prisão Honestino é eleito para a presidência da FEUB (Federação dos Estudantes Universitários de Brasília), devido à pressão de democratas e dos estudantes é solto.

Na direção da FEUB Honestino conduziria o movimento estudantil em Brasília no ano de 1968, ano de grandes mobilizações, no qual se destaca a manifestação dos 100.000 no Rio de janeiro. O ME na capital federal era dos mais combativos do país, naquela época. Dia 28 de março, no início da noite, chegavam à UnB as notícias da repressão sangrenta a uma mobilização dos estudantes no Restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, e o assassinato do estudante secundarista Edson Luiz de Lima Souto. Imediatamente Honestino se dirigiu à biblioteca da universidade, onde se encontrava centenas de estudantes, e deu início à mobilização de protesto. Em seguida, organizou uma campanha de pichações que produziu dezenas e dezenas de inscrições nos muros da capital durante toda noite. A mobilização culminou com vasta manifestação no dia seguinte, com milhares de participantes, até os palanques comemorativos de mais um aniversário do golpe de 1º de abril foram incendiados pela indignação que tomou conta dos estudantes brasilienses.

“A capital da república viveu desde as 18 horas de ontem, até a madrugada de hoje, cenas de violência, em virtude das manifestações de condenação do assassinato do estudante Edson Luís no Rio de Janeiro. As demonstrações reuniram centenas de universitários e estudantes secundaristas, além de populares na avenida W3. Aos gritos de “Assassinos”, “Abaixo a Ditadura” e outros, os manifestantes se dirigiam para a praça 21 de abril, mas foram impedidos de ali se reunirem.”2

Honestino não foge à luta, perseguido, milita na clandestinidade.

Em junho do mesmo ano (68), em seqüência dos protestos, os estudantes do DF, sob direção de Honestino, realizam uma manifestação organizada pela FEUB com 10.000 estudantes. Em uma Assembléia Geral, os estudantes identificaram quatro militares infiltrados, diante de uma possível intervenção, ergueram barricadas no campus, declarado “Território Livre”. No fim do mês um agente policial que se infiltrara no RU é preso pelos estudantes e mantido em cárcere na UnB durante toda noite. Essas demonstrações de organização e poder dos estudantes ameaçavam e provocavam temor nos militares. No dia 15 de agosto, o coronel Murilo Rodrigues de Souza, encarregado do IPM (Inquérito Policial Militar) do movimento estudantil, comunica a decretação da prisão preventiva de sete estudantes, entre eles Honestino Monteiro Guimarães (Presidente da FEUB). Isso os levam a clandestinidade, pois decidem não se entregar e continuam a militância política. Honestino e os demais continuam presentes nas mobilizações estudantis na universidade.

Sob a alegação de cumprir o mandato de prisão dos alunos, em uma operação conjunta entre a Polícia do Exército, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Política (DOPS), a Universidade de Brasília foi violentamente invadida. Os estudantes sob a liderança de Honestino resistem de forma heróica. Destemidos confrontam com a polícia exigindo que saiam da universidade, várias viaturas são apedrejadas, viradas de cabeça para baixo, incendiadas, a polícia enfrentando a resistência, adentra os prédios das faculdades e o ICC (Instituto de Central de Ciências, principal prédio da UnB), prendem centenas de estudantes e destroem instalações e laboratórios da universidade, disparam sobre os estudantes, chegaram a ferir o estudante de engenharia Valdemar Alves Silva atingido por um tiro na cabeça, perdeu um olho e ficou por vários dias entre a vida e a morte com uma bala na cabeça.

A operação era dirigida por militares experientes do exército e ainda mantinham tropas de prontidão. Honestino foi preso e violentamente espancado, ficando detido cerca de dois meses. A mãe de Honestino dona Rosa, hoje aposentada, era professora quando se deu a invasão da UnB. O telefone de seu apartamento era grampeado. Não teve medo, porém, quando lhe avisaram da prisão de Honestino. Pegou o telefone, gritou, urrou, mandou recados para os homens do Exército.

“Alguns estudantes faziam prova. Outros estavam nas aulas práticas de medicina. De repente, todo o campus e os edifícios foram envoltos em nuvens de gás e pólvora. Houve depredações, choques, lutas corporais, agressões, tiros, prisões. Mais uma vez a Universidade de Brasília era invadida pela polícia, agora incumbida da missão de prender cinco estudantes. Dos cinco apenas um, justamente o líder Honestino Guimarães, chegou a ser detido”.3

Honestino também é alvo do AI-5

A gerencia militar vendo a crescente mobilização popular, particularmente dos estudantes, e o desenvolver de diversos grupos revolucionários decreta o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, iniciando uma fase mais aguda da repressão. Como milhares de estudantes, intelectuais honestos, operários e muitos revolucionários, Honestino entra para a clandestinidade definitivamente. Nessa situação assume uma importante e difícil tarefa, presidir a UNE sob o cerco da repressão. Com a cabeça a prêmio, combativo, destemido, não vacilou, conduziu a entidade, agora clandestina, no seu mais avançado período, momento em que esta se encontra no campo revolucionário.

Honestino se forjava como um grande dirigente revolucionário, vivia em função de nosso povo, costuma expressar em versos seus sentimentos e a sua profunda confiança no povo e na luta. Com uma postura sempre combativa travava luta contra as posições oportunistas que proliferavam no meio estudantil, procurava sempre não conciliar com as posturas reformistas e capitulacionistas favoráveis ao “diálogo” com o regime militar. Era um dirigente político reconhecido pelas massas, com visão ampla, democrática, combatia as visões estreitas e sectárias dos trotskistas e outros oportunistas.

Informações colhidas na capital federal dão conta de que os órgãos de informação estavam acompanhando atentamente os passos do grupo de que Honestino Guimarães fazia parte (AP-ML, Ação Popular — Marxista-Leninista, denominação da organização de honestino após a decisão pelo marxismo-leninismo pensamento Mao Tsetung), com o objetivo de liquidá-lo em escala nacional, e se apressaram em atingi-lo quando souberam que a sua direção nacional resolvera apoiar o movimento de resistência armada surgido no sul do Pará (Guerrilha do Araguaia), sob a direção do PCdoB.

Dia 10 de outubro de 1973 Honestino foi preso na cidade do Rio de Janeiro. Desde então nunca mais foi visto. Em dezembro desse ano sua mãe Dona Maria Rosa soube que ele estaria preso em Brasília, e obteve a promessa de que poderia visitá-lo no dia de Natal. Mas subitamente a notícia foi desmentida. Uma longa peregrinação de D. Maria Rosa em busca de qualquer informação sobre o filho sempre resultou em evasivas, em negativas, em promessas não cumpridas.

Honraremos o sangue de Honestino Guimarães!

Mas todos sabemos a verdade: Honestino Guimarães foi assassinado pelos algozes do governo militar que gerenciava este mesmo Estado burguês-latifundiário serviçal do imperialismo. Temerosos da justiça popular, que um dia, breve, irá prevalecer, procuram esconder seu hediondo crime, um dentre muitos que cometeram contra o povo brasileiro. Os traidores, , revisionistas, e toda laia de oportunistas capitularam e traíram a luta daqueles que tombaram, mas a memória do povo não é fraca, e ele cobrará o sangue de cada um de seus filhos! Um dos assassinados pela repressão dos anos Médici, Carlos Danielli, escreveu, com o seu próprio sangue nas paredes do cárcere: “ESTE SANGUE SERÁ VINGADO”. Continuemos o caminho que trilhava Honestino, caminho de luta dura, caminho glorioso que levará inevitavelmente a uma nova vida, continuemos a construção de uma verdadeira e nova democracia.

O assassinato de Honestino como de tantos outros, não faz calar o povo, “o sangue do povo não afoga a revolução, o sangue do povo rega a revolução”, isso a história tem nos ensinado. Como Honestino mesmo disse: “Podem nos prender, podem nos matar, mas um dia voltaremos, e seremos milhões…”.

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