Bomba relógio?!

VIVASP.com, 14/4/2004

Lidia Walder

Lendo alguns relatos sobre a ditadura militar, lembrei-me de um fato, que considero hilário, pois no mínimo, mostra o despreparo total dos que atuavam na repressão, à época.

Meu cunhado “Peninha”, estudante de Física na USP e morador do CRUSP, nos anos de chumbo, já era então o embrião do cientista brilhante que é hoje. Muito criativo ( seu apelido deveria ser Prof. Pardal e não Peninha), fez uma alteração num despertador comum, mas… deixemos que ele mesmo fale sobre o assunto:

“Na verdade fui preso e interrogado uma vez, mas bem antes do fechamento do CRUSP. Quando o CRUSP foi fechado, fui preso com todo mundo e não teve nada a ver com o tal despertador: simplesmente levaram todo mundo preso.

O despertador era um despertador comum com um contacto elétrico que disparava uma campainha. Eu era difícil de acordar e assim resolvi esse problema.

Poucas semanas depois do fechamento do CRUSP fizeram uma exposição com o material apreendido: o tal despertador, o meu livro “Bombas Hidráulicas”, etc. etc. estavam ali expostos.

Mas eles sabiam que não tinha nada a ver, já que alguns meses depois disso fui intimado a prestar depoimento no IPM do CRUSP e nem mencionaram o tal despertador”.

Se eles sabiam que não tinha nada a ver, porque expor o relógio e um livro sobre bombas hidráulicas como objetos apreendidos em batidas que buscavam indícios de subversão entre os estudantes? É isso que eu acho engraçado.

Comentários

eram os brucutus da época! Cérebro 0, truculencia, 10!!!!

Você tem razão. É necessário contar com muita gente para reprimir um país inteiro. Então uma enorme quantidade de pessoas despreparadas, encarregadas da repressão, muitas vezes nem sabendo quem, o que ou porque, tinham assim a oportunidade de se sentirem importantes, amedrontando inocentes. É o método utilizado por todas as ditaduras.

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