A Negociação

MNN — concretoarmado, 14.11.7

No ínicio de 2007 o Diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (fflch) da USP, subitamente colocou grades por todo o espaço estudantil (o "porão") com o objetivo de transformar aquele espaço em uma espécie de mini-café. Foi então, que a partir da intervenção teatral, A jaula, do grupo Coro de Carcarás, os estudantes enjaulados colocaram abaixo as grades. "Pega, mata, come", cantavam os estudantes com a violência dos versos cantados por Bethania. "A representação, então, foi devorada! Criou-se a ponte que funde a arte à vida!", trecho do texto que conta sobre a experiência, que inclusive deu o nome ao grupo (leia mais: A JAULA ― o vôo do carcará do sertão de Mandassaia à metrópole de São Paulo -- 12.03.2007).

Agora, novembro de 2007, surgem ameaças do diretor que novamente quer acabar com o espaço, disposto a iniciar nas próximas férias a construção do "mini-café". Novamente os estudantes resistem. E novamente o Coro de Carcarás intervem:
Contra o autoritarismo dos burocratas!
Contra a universidade-shopping!

Abaixo segue texto o roteiro do agit-prop encenado no porão da ciências sociais na última semana.

A NEGOCIAÇÃO
Intervenção no porão
14.11.7

Personagens
Professor-Mediador
Estudante-Pelego
Grande Capital
Coro

Estudante anuncia que há boatos de que o diretor vai vir no porão conversar com os estudantes.
Entra o Professor-Mediador com o Grande Capital.

Estudante-Pelego — Mas você não é o diretor! Quem é você?

Professor-Mediador — Sou um lacaio. Vim para o dialogo e não para acabar com a festinha de vocês, nem para desocupar ninguém. O diretor está receoso com sua segurança e eu vim em seu lugar. Quero dizer que antes de tudo, estamos na faculdade de ciências políticas e que precisamos do dialogo! Na última vez que o Diretor tentou procurar o dialogo, uma minoria, digamos uma massa de bárbaros, arrancou as grades deste lugar em nome das liberdades democráticas. Estou aqui hoje porque estamos em uma democracia e defender as liberdades democráticas, significa entrar em um acordo! Convenhamos: o espaço para vocês estudantes é importante, mas sem dúvida, mas importante ainda é para o pleno desenvolvimento da academia! Fundaremos aqui um mini-shopping café! Cafezinhos e rosquinhas gostosas para alimentar o espírito! Cafezinhos e rosquinhas gostosas para alimentar o debate político! Propiciar as pesquisas, formar os grandes ideólogos do país! Neste momento em que Brasília é tomada por um mar de lama, mais do que nunca precisamos de cafezinhos e rosquinhas gostosas! Então, vou ler aqui minha proposta de consenso:

Enquanto o professor lê a carta, que é a própria carta do diretor, o grande capital, faz o professor de marionete.

Professor-Mediador — “11, 2 milhõe s de investimento que vão representar uma mudança nos conceitos desta universidade! Transformará a escola, transformará o futuro da juventude! E desde já iniciaremos as reformas no espaço: no ano que vem, essa unidade vai parecer um canteiro de obras! Este lugar vai ser uma nova Maria Antônia !” Então, o que acham?!

Estudante-Pelego (se maqueia enquanto fala) — Eu aceito conquanto que eu possa fazer parte da comissão de negociação… Acho fundamental discutirmos sobre o novo conceito de universidade, discutir a estrutura de poder… Banqueiro dá rosquinhas ao estudante que pára de falar.

Banqueiro — Yes! Bons negócios! It´s a great time of the University of São Paulo! Ensino à distância, cafezinhos… bananas! Eu não entender porque vocês aqui do Brasil dificultam tanto as reformas do governo, dificultam tanto o progresso! Vocês não reclamam que precisam de professores, que precisam de papel no banheiro?! Eu, com o ensino à distância e cafezinhos, querer dar tudo isso à vocês! Fundaremos empresas onde antes eram universidades, onde antes só havia cana! Eu ser um socilaista! Até uso o vermelho na marca do meu banco! Eu não entender tanta hostilidade a um governo que fez tanto para o povo! Eu por exemplo, nunca tive tantos lucros durante esse governo! Yes, Brasil = Good bussiness! Então, vocês não querer este governo?! Vocês não querer esta universidade?! Não querer cafezinhos e rosquinhas?!

Coro (canta)
— Burguês! Burguês! Burguês!
— Come ananás, mastiga perdiz, teu dia está prestes!

Coro aponta com os bastões para o professor, o banqueiro e o estudante-pelego que vão recuando até sair do espaço dos estudantes.

Coro (maracatu)
— Abra jaula!

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