Informes

Informes sobre a Greve de Alunos da FFLCH-USp de 2002.

Maio

FFLCH em greve!

Informativo Adusp, nº 117, 10 de maio de 2002

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Assembléia dos professores da FFLCH no dia 6/5

Os alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas estão em greve, em protesto contra a falta de professores e as salas de aula lotadas da unidade. O curso de Letras foi o primeiro a parar. Já no dia 3/4, haviam feito um dia de paralisação, depois de os estudantes tentarem, sem sucesso, solucionar os problemas por meio de conversas com os professores. E a partir do dia 29/4, entraram em greve. Após seguidas assembléias e discussões internas, os demais cursos decidiram apoiar o movimento, e, progressivamente, entraram em greve ou paralisações parciais.

No dia 16/4, houve a primeira paralisação conjunta dos alunos da FFLCH. Nesta data, fizeram um ato em frente à Reitoria. Segundo Marcelo Silva Souza, diretor do Caell, a intenção era agendar uma audiência com o Reitor para discutir a questão. Os estudantes foram recebidos pela pró-Reitora de graduação, professora Sônia Penim, e conseguiram marcar uma audiência pública com ela, para o dia 23/4, no anfiteatro da Geografia.

No debate, as respostas da Pró-Reitora às indagações dos alunos foram consideradas insatisfatórias: ela argumentou que a contratação de professores não faz parte de suas atribuições. “Mas o debate foi interessante, porque muitos professores e funcionários puderam falar sobre os problemas da FFLCH”, explica Marcelo.

A comissão de claros da FFLCH definiu que para suprir as necessidades básicas da unidade são necessárias 115 novas contratações até 2004. Essa decisão foi reiterada na última reunião da Congregação da FFLCH. O pedido foi encaminhado à Reitoria, explicitando que 54 claros precisam ser preenchidos ainda em 2002 (ver nesta página). A Reitoria respondeu, admitindo preencher por concurso público somente 12 vagas, neste ano, e não apresentou política de contratação para os anos seguintes.

A luta pela reposição de claros docentes é uma antiga bandeira do movimento em defesa da universidade pública. Na última década, a USP perdeu cerca de mil professores, e essas vagas ainda não foram devidamente preenchidas, mesmo após a greve de 2000, quando a Reitoria viu-se obrigada a atender parcialmente a reivindicação de contratação de professores. A Adusp vem denunciando essa política deliberada da administração central, que atingiu seu ápice na gestão do reitor Jacques Marcovitch, que chegou a elogiar, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, o “enxugamento” do quadro de pessoal da universidade.

Professores e alunos voltariam a reunir-se nesta semana em assembléias para definir os rumos da greve. No dia 17/5, está marcada uma audiência pública com o Vice-Reitor, professor Hélio Nogueira.

A greve na FFLCH e a "expansão" da USP

Continua a passo firme a greve na FFLCH, pela contratação imediata de professores: a relação docente/aluno é de 1:38, contra 1:14 na média da USP. Os pós-graduandos votaram sua incorporação à greve, numa massiva assembléia, somando-se aos graduandos dos onze departamentos. Professores e funcionários encontram-se em “estado de greve”, em solidariedade ativa ao movimento. As atividades de greve — passeatas, aulas públicas no campus e na cidade — têm expressivo público.

Os números do "arrocho docente"
FFLCH
1990 2000
Professores 455 335
Estudantes Graduação 8.193 9.237
Estudantes Pós-Graduação 2.130 3.513
Total de estudantes 10.323 12.750
Relação docentes/estudantes 1:22 1:38
USP
1990 2000
Professores 5.672 4.694
Estudantes Graduação 35.050 39.155
Estudantes Pós-Graduação 15.991 28.295
Total de estudantes 51.031 67.450
Relação docentes/estudantes 1:9 1:14,5

Duas audiências públicas, realizadas no anfiteatro da Geografia com presença maciça de estudantes e professores, com a Pró-Reitora de Graduação e o Vice-Reitor, em nada resultaram: só evasivas foram ouvidas da parte das autoridades da USP.

Ao mesmo tempo, uma comissão mista, composta por representantes das comissões de claros da USP e da FFLCH, reteve a proposta dos departamentos e congregações da FFLCH, que prevê a contratação de 115 docentes até 2004, inclusive, como condição para um funcionamento mínimo. Nesta segunda-feira, 27/5, haverá reunião da comissão de claros do CO, que analisará a situação, ao mesmo tempo em que a assembléia geral dos alunos definirá sua pauta de reivindicações. No mesmo dia, a CAA deverá deliberar acerca da criação de dez novos cursos nos campi do interior, com a contratação de 159 docentes.

Isso quando se cogita da criação da USP-Zona Leste (haveria um terreno destinado a ela, na Avenida Ermelino Matarazzo), a criação do curso de Letras da FFLC de Ribeirão Preto, e a extensão da FFLCH para Pirassununga, com a criação dos cursos de História e Geografia. Nesse contexto, tais iniciativas podem vir a configurar um quadro não planejado de expansão da USP, que não contemple o necessário compromisso com o ensino superior público, podendo vir a privilegiar interesses setoriais e ou “políticos”.

E pior, seria uma expansão realizada às expensas do “arrocho docente” da FFLCH, que é praticamente a matriz histórica da USP.

Agosto

Boletim da greve FFLCH-USP 08/08

CMI — Por Comissão Imprensa 08/08/2002/

ASSEMBLÉIA DOS ESTUDANTES VOTA PELA CONTINUIDADE DA GREVE.

ASSEMBLÉIA DOS PROFESSORES QUER A VOLTA ÀS AULAS.


Mas essas não são as únicas divergências dentro do movimento. Por pouco os votos pelo fim da greve não foram maioria. As diferenças estão postas na mesa.

A boa surpresa começou com um olhar ao estacionamento: lotado. Foi difícil achar vaga para parar. Na rua, o cenário não era diferente: dezenas de carros estavam estacionados na parte livre da av. Luciano Gualberto. Mais para cima, no trecho fechado pelos alunos para a realização da Assembléia, colegas que não se viam há meses comemoravam o reencontro com abraços, cerveja e a insuperável pipoca da Bia.

Isso amenizava um pouco a expectativa presente em todos. Ninguém se arriscava a dar palpites sobre como a Assembléia terminaria. As adesões e os discursos contra e a favor da greve faziam prever um empate.

E esse empate quase aconteceu. Foram necessárias duas votações, depois de quatro horas e meia de Assembléia, para que a Mesa decidisse, por contraste visual, dar a vitória à proposta que estabeleceu a continuidade da greve. Comemorada com fogos de artifício, essa vitória encerrou a longa reunião. Mas, apertada, tornou patentes as divergências dentro do movimento. A greve, como instrumento de luta, deixou de ser a quase-unanimidade de semanas atrás. Isso leva à reflexão de que é preciso pensar em novas bases sobre as quais construir a necessária unidade da FFLCH.

Minoria inconveniente. Terminada a Assembléia, algumas lideranças tomaram o microfone para propor um cerco à reitoria. "Vamos dormir lá em frente e, amanhã, impedir que os funcionários entrem para trabalhar. Vamos obrigar o reitor a negociar", discursou, em tom exaltado, uma dessas lideranças. Sob aplausos, vários alunos se dispuseram a descer à reitoria. Nesse momento, esta que vos fala abandonou a função de jornalista e passou à de aluna. Entre desolada e revoltada, tomou o caminho de casa. Dar continuidade à greve com atitudes desse tipo, que levam a enfrentamentos, é um risco e tanto. É preciso impedir, e com urgência, que grupos isolados, não-representativos da maioria, continuem a propor e a executar ações que comprometem a seriedade do movimento. Em especial quando essas ações são decididas fora do âmbito das Assembléias, ou quando estas já estão esvaziadas. A opção pelo confronto e as atitudes impensadas, tomadas no calor da hora, podem acabar levando nosso movimento a dar um tiro não no pé, mas na cabeça.

O que, em outras palavras, significa decretar a própria morte.

A posição dos professores. Enquanto os alunos realizavam reunião na rua, os professores faziam Assembléia no anfiteatro da História. Reafirmando a necessidade de união da faculdade, os docentes posicionaram-se pela retomada das aulas com discussões entre todas as instâncias da FFLCH — estudantes, funcionários e professores. Para eles, não devemos perder o semestre. Por esse motivo — e isso não foi dito no informe, mas revelado por uma aluna que assistiu à Assembléia dos docentes —, a intenção é entrar em classe a partir do dia 14 de agosto. Intenção que pode ser referendada hoje, às 9h30, quando a Congregação se reúne para avaliar a decisão tomada pelos estudantes.

Repúdio e apoio. A Assembléia dos professores aprovou moções de repúdio à agressão sofrida pelos colegas na Casa de Portugal e aos insultos aos docentes contidos em documentos espalhados nos prédios da Unidade. O Sintusp também enviou moção de repúdio à atitude dos integrantes da Força Sindical que usaram de violência física contra os estudantes da FFLCH. Já a UNE, ao reafirmar, em documento oficial, seu apoio à greve, e ao desautorizar declarações contrárias, deu um puxão de orelhas no dirigente da entidade que, ao participar do comício de Alckmin, disse que os presentes à Casa de Portugal não eram estudantes e sim "membros do PSTU". Ao agir assim, a UNE desautorizou essa infeliz tentativa de desqualificar um movimento legítimo como o nosso.

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