Alunos se reúnem para lembrar invasão do Crusp há 40 anos

Descreve o encontro de ex-moradores do CRUSP no colégio Notre Dame ocorrido em 29 de novembro de 2008

Correio Brasiliense, 29 nov 2008
Agência Estado

Centenas de ex-alunos da Universidade de São Paulo e moradores do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) entre os anos de 1963 e 1968 estão reunidos neste sábado (29/11) no Colégio Notre Dame, em São Paulo, para rememorar os 40 anos da tomada e ocupação do local pelo Exército em 17 de dezembro de 1968, quatro dias após a decretação do AI-5.

A importância principal desse evento, hoje, é o reencontro social: matar as saudades, rever as pessoas, conversar com as pessoas mais queridas. Mas não deixa de ter outros dois aspectos que gostaria de ressaltar: o político, já que não dá para fazer uma reunião de cruspianos sem ter uma conotação política porque todos nós, de uma forma ou de outra, lutamos pela democratização do país na época; e também o aspecto de ser uma reconquista histórica do processo, disse Rafael de Falco Neto, que foi aluno na USP em 1965 onde cursou a Escola Politécnica.

Aos 62 anos, Falco Neto é atualmente um pequeno empresário, mas entrou para a história do Crusp como o primeiro presidente da Associação dos Universitários Rafael Kauan, uma das primeiras entidades estudantis a surgir no local. O que marcou a minha vida universitária foi o Crusp. Tive uma militância do ponto de vista estudantil muito forte, disse.

Segundo ele, os primeiros anos vivendo na moradia estudantil foram tranqüilos, sem enfrentar o regime militar . O Crusp ainda não tinha se tornado um centro de mobilização estudantil como veio a se tornar depois. Nesse período, nossas principais reivindicações eram a melhorias das condições de vida: tínhamos apartamentos bem modestos, com comida relativamente ruim, sem um campo de futebol digno desse nome. Nossa briga era mais por isso

A mudança, segundo Remo Alberto Favorini, veio a partir de 1966. A partir desse ano, a gente se organiza contra a ditadura, que se arma contra a gente, lembrou ele, que morou no Crusp entre os anos de 1964 e 1967. Favorini é hoje um professor aposentado de 66 anos.

O Crusp foi invadido várias vezes até a invasão final, em 1968, quando foi totalmente evacuado, disse Favorini, ressaltando que esteve presente em todas as invasões, com exceção da última. A violência era total. Muitos de nós estávamos dormindo, estudando A porta era aberta a pontapés. Não havia arma de fogo, mas o cassetete corria solto, sem qualquer explicação, em nome da segurança nacional, lembrou.

Para Falco Neto, o Crusp acabou facilitando a movimentação estudantil por agregar estudantes de várias faculdades da USP. Na realidade, o único movimento organizado que tinha condições de colocar uma posição crítica ditadura era o movimento estudantil. E acho que cumprimos bem a nossa função na época, afirmou.

Embora tenha sido projetado para abrigar os estudantes da USP de fora de São Paulo e sem condições financeiras para morar na capital durante a conclusão do curso, o Crusp só foi construído em 1963 diante da necessidade de abrigar os atletas que participaram dos Jogos Pan-Americanos realizados neste mesmo ano em São Paulo. Quando foi ocupado, em 1968, cerca de 1,4 mil estudantes moravam no conjunto residencial.

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