Em defesa da Universidade

Luiz Renato Martins, professor do Depto. Artes Plásticas, ECA-USP

A união política do movimento estudantil e de funcionários da USP, com o apoio de uma pequena mas decidida fração de professores, possibilitou a inédita ocupação do prédio central da Reitoria da USP por 50 dias entre maio e junho deste ano. Maior do que o feito simbólico, porém, foi o fato do movimento ter conferido à luta em favor da democratização do ensino público objetivos concretos e uma nova escala política, ressaltando o papel estratégico da convergência política entre trabalhadores e estudantes, entre o trabalho e a formação.

Rompendo o gueto, em que a estratégia educacional da ditadura atirara a universidade e os centros de pesquisa avançada, o movimento projetou a universidade numa frente de lutas avançadas contra a barbárie instalada na ordem do Capital. As lutas pelo ensino superior público generalizado, pelo controle democrático dos programas de pesquisa e a universalização dos seus benefícios vieram se conjugar assim àquelas mais antigas, por terra, democracia, salários dignos, habitação, saúde e transportes. Os governos estadual e federal, a grande mídia e os setores da universidade e da pesquisa, associados aos interesses dos grandes capitais, acusaram o golpe e tiveram de recuar em alguns dos seus desígnios privatizantes.

Desde dentão, porém, a situação mudou e a direita, sentindo o perigo, se rearticulou rapidamente. Nos episódios recentes de Araraquara (UNESP), Campinas (UNICAMP), Santo André (FSA), São Francisco (USP) e PUC-S. Paulo, assim como no tratamento de choque dado pelo governo federal aos controladores de vôo, pelo governo de S. Paulo aos metroviários e nas invasões de favelas, pela polícia carioca, fica evidente a retomada de uma ofensiva repressiva, protagonizada pelo consórcio PT-PSDB-PMDB-DEMOS sob a regência da voz do capital que controla a grande mídia.

Na USP esse processo vem multiplicando as formas de ameaça contra os membros identificados do movimento, alvejando por ora alguns funcionários e estudantes, mas estendendo as garras e visando à sua possível criminalização a fim de intimidar a todos que desejam uma universidade democrática, gratuita, transparente, universalizada e independente dos interesses privados. Vem ainda atalhando e precipitando uma série de mudanças de cunho neoliberal e autoritário, na estrutura de poder da universidade, na organização da pós-graduação e da pesquisa, nas carreiras docentes e nos direitos discentes. O objetivo claro é esterilizar e tornar natimorto o V Congresso da USP, em 2008, concebido para a reestruturação democrática e radical da universidade e conquistado nas lutas de 2007!

Organizemo-nos para deter essa ofensiva! Preparemo-nos para conquistar como aliados os jovens estudantes que entrarão na USP neste verão, explicando para eles os nossos objetivos e difundindo as lutas de 2007! Avancemos para o V Congresso, com a divisa da isonomia geral entre estudantes e trabalhadores (docentes, administrativos e braçais), para refundar pela democracia e transparência a universidade brasileira, liberando-a da cultura salazarista e franquista em que ainda está imersa, e antes que o capital a devore como já fez com os sistemas de saúde, previdência, ensino básico e médio, os transportes e as cidades, hoje, verdadeiros infernos em escala de massa, que trituram dos brasileiros o tempo, a vida e as esperanças!

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