Estudantes saem de prédio da reitoria da Unicamp após 83 horas de ocupação

Cosmo Online, 31 de março de 2007
Por Eduardo Caruso

Depois de 83 horas de ocupação, 200 estudantes deixaram na sexta-feira à noite o prédio da reitoria e a sala do Conselho Universitário (Consu) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi uma das mais radicais manifestações ocorridas na instituição nos últimos anos.

Nos mais de três dias de resistência, os alunos conseguiram que a universidade atendesse a maioria das reivindicações. Eles invadiram o local às 7h de terça-feira.

Além do afastamento da administradora do Programa de Moradia Estudantil, Kátia Stancato, a reitoria garantiu não formalizar nenhuma punição disciplinar aos alunos, caso não seja detectado dano ao patrimônio público, durante as vistorias aos locais invadidos.

Enquanto os alunos comemoravam o resultado da manifestação, o pró-reitor de Graduação da Unicamp, Edgar de Decca, considera que o resultado final foi positivo para a universidade.

"Nós conseguimos negociar e não tivemos que desocupar o prédio usando a força. Isso nos torna vitoriosos", disse. A reintegração de posse foi expedida pelo juiz, Mauro Fukumoto, da 1ª Vara da Fanzenda Pública, na tarde de terça-feira.

Decca afirmou que, logo no início da ocupação, a professora Kátia havia colocado o seu cargo à disposição, mas a reitoria estava tentando mantê-la no cargo para que pudesse se defender das acusações anônimas e coletivas que os alunos enviaram.

"As razões são vagas e difíceis de detectar. A professora Kátia, depois de anos de falhas na moradia, conseguiu organizar o conjunto", ressaltou. Até que seja escolhida a nova administração, a comissão de pró-reitores, responsáveis pela comissão de negociação, responderá pela moradia.

Os estudantes comemoraram o afastamento de Kátia e, com isso, avaliam o ato como vitorioso. "As pautas foram atendidas", resumiu Júlia Moretto Amâncio, 22 anos.

A reitoria também assumiu o compromisso de encaminhar um laudo até o próximo dia 3, constatando os problemas encontrados no bloco B. Com isso, as reformas das 11 casas, que tiveram as suas estruturas abaladas, deverão ser iniciadas cinco dias depois da entrega do documento. As vistorias das outras casas da moradia deverão ser concluídas em dois meses e serão sucedidas, de imediato, das manutenções necessárias.

Outra vitória dos estudantes foi a obrigação de a Unicamp em locar casas para os estudantes desocupados do bloco B. Além de se responsabilizar pelo contrato, a universidade se incumbiu do pagamento das contas de água, energia, impostos e transporte.

A Unicamp alega que todas essas reivindicações envolvendo as reformas da moradia estavam previstas antes do início do movimento. Em nota oficial, a reitoria informa que a invasão era absolutamente desnecessária, uma vez que a Unicamp já havia tomado todas as providências relativas ao assunto.

Duas outras reivindicações dos estudantes ainda não foram atendidas. Para a questão da construção de mais 500 novas vagas na Moradia — que representa a ampliação de 50% da sua capacidade, atualmente estimada em mil lugares —, conforme o projeto inicial do conjunto, será criado um grupo de trabalho paritário, com estudantes escolhidos pela assembléia da moradia, que encaminhará resolução ao Consu até setembro de 2007.

Os estudantes também não conseguiram homologar os Representantes Discentes (RDs) do Consu escolhidos em eleições independentes realizadas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), em novembro do ano passado. Mas na reunião de 29 de maio, o Conselho deverá aprovar a mudança no processo eletivo, que deixa nas mãos dos alunos a organização de eleições.

"Nós votaríamos isso no Consu de terça-feira, dia que eles começaram o movimento. Era consenso e iria passar", comentou o pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Paulo Eduardo Rodrigues da Silva.

Pesquisa
A pró-reitora de Pós-Graduação da Unicamp, Teresa Atvars, disse ontem que os funcionários e diretores de institutos da universidade fizeram um mutirão para que não fosse perdido o prazo, que expirou na quinta-feira, para o envio dos projetos à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que totalizam um montante de R$ 12 milhões.

"Não poderíamos adiar. Esse prazo foi publicado em Diário Oficial. A Unicamp fez um esforço de recolher as informações e enviar", contou.

Comentários

**31/3/2007*
enviada por Klaudio (rb.moc.liampiz|ldrak#rb.moc.liampiz|ldrak)

"a palavra inspirou está colocada indevidamente no texto. Seria expirou."

31/3/2007
enviada por Luana Mercurio (moc.liamg|oirucrem.anaul#moc.liamg|oirucrem.anaul)

"não é um GT pertidário e sim paritário!!"

30/3/2007
enviada por Estudantes da Unicamp (moc.liamg|pmacinuecd#moc.liamg|pmacinuecd)

Nota pública do movimento de ocupação da Reitoria


Nós, estudantes organizados que ocupamos a Reitoria e o CONSU (Conselho Universitário) da Unicamp, conquistamos uma vitória importante hoje com o atendimento de nossas reivindicações:
  1. Sobre a Moradia Estudantil, a Reitoria aceitou ser locatária de casas para os estudantes desalojados do Bloco B, bem como financiar os gastos relacionados ( água, luz, transporte e manutenção). Aceitou também dar início às reformas do bloco condenado, realizar uma vistoria geral da moradia estudantil seguida das reformas necessárias. Partindo da necessidade da ampliação de vagas da moradia e de seu projeto inicial de 1.500 vagas, será criado um grupo de trabalho que indicará como se dará essa ampliação. É importante ressaltar que conquistamos a saída da agora ex-administradora do Programa de Moradia Estudantil, Kátia Stancato.
  2. A questão referente à homologação dos Representantes Discentes (RDs) voltará à pauta do próximo CONSU e serão retomadas as atividades do grupo de trabalho que avalia a questão.
  3. O reitor fará seu posicionamento público crítico aos decretos do governo Serra em artigo a ser apresentado em breve no jornal O Estado de São Paulo.
  4. A reitoria garantiu que não haverá punições ou medidas disciplinares contra os estudantes que participaram da manifestação.

Este movimento, organizado e pacífico, se retira portanto dos prédios ocupados por compreender que conquistou o que reivindicava, mas reitera a importância da continuidade da mobilização dos estudantes. Na Unicamp ainda há muitas questões pelas quais lutar: a construção do teatro-laboratório do IA (Instituto de Artes), a construção do prédio do IG (Instituto de Geociências), a contratação de 75 professores para o IFCH, o financiamento da extensão comunitária, eleição direta e paritária para reitor, entre outras.

Há também muito a avançar na luta por uma universidade pública e de qualidade. Essa luta se manifesta hoje na necessidade de barrarmos a Reforma Universitária e os decretos do governo Serra que o aprofundam o processo de sucateamento e de privatização velada da universidade pública.

Convocamos todos os estudantes para que se levantem pela construção de uma greve indicada para o dia 17 de abril em defesa da educação pública. As conquistas da ocupação da Unicamp demonstram a força do Movimento Estudantil e seu potencial para avançar em sua lutas.

NAS RUAS! NAS PRAÇAS! QUEM DISSE QUE SUMIU?!
AQUI ESTÁ PRESENTE O MOVIMENTO ESTUDANTIL!!!

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