Constelar Edição 11
Um astrólogo do movimento estudantil
De 3 de maio a 22 de junho de 2007 o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo esteve sob ocupação de estudantes que protestavam contra o risco de redução da autonomia universitária. Foram 51 dias de impasse, que incluíram ameaças de invasão pela tropa de choque da PM. Um astrólogo universitário que viveu de perto os acontecimentos analisa a ocupação e lança mão de configurações celestes para explicar o velho debate entre direita e esquerda.
Hoje, dia 22/06/07, no início da noite, as dependências do prédio da Administração Central foram desocupadas e, em decorrência, entregues os termos de compromisso firmados com os funcionários e estudantes.
(Comunicado da reitoria da USP na noite de 22.06.2007)
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Introdução
No dia 3 de maio de 2007, por volta das 17h30min, um grupo de cerca de 300 estudantes ocupou a Reitoria da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo. A decisão dos estudantes por manter a Ocupação foi tirada em Assembléia e pode ser vista no YouTube. A pauta de reivindicações dos estudantes contempla 18 itens cujo teor abarca a melhoria da assistência estudantil, muito importante, por exemplo, para os estudantes de baixa renda e, o que tem impacto político no governo do Estado, itens que contestam os decretos do governador de São Paulo, José Serra. Uma análise dos decretos levanta questões que poderiam afetar a autonomia universitária, que tem sido uma luta histórica constante do meio universitário: avançar no sentido da conquista de tal autonomia, que seria, grosso modo, a liberdade que uma universidade possuiria para a pesquisa, ensino e extensão. O debate atual, no entanto, tem se concentrado especialmente na dimensão financeira dessa autonomia, a chamada "autonomia financeira" e na autonomia de pesquisa, sobre as quais o texto dos decretos de Serra entra em contradição, o que gerou revolta no meio universitário.
NOTA DE CONSTELAR
Se bem que não faça parte da política editorial de Constelar publicar textos anônimos ou sob pseudônimo, eventualmente podemos abrir uma exceção, desde que haja uma justificativa real. É o caso do autor do presente artigo, que lança mão do anonimato por ser estudante de um dos cursos da área tecnológica da USP e estar envolvido no movimento estudantil. O artigo chegou ao editor de Constelar através do astrólogo Alexey Dodsworth, único a conhecer a identidade do autor incógnito.
As universidades, nos idos medievais e renascentistas, não eram autônomas porque o pensamento estava condicionado ao poder teológico. A revolução científica iniciada por Galileu e Copérnico é emblemática nesse sentido. Nos séculos seguintes, na luta pela imposição da racionalidade científica, a própria astrologia, no século XVII, terminou expulsa das universidades. E, ainda em nossos dias, o poder teológico já não consiste mais num obstáculo para o pensamento. No entanto, a autonomia universitária presencia hoje um outro tipo de força que domina nossa sociedade e tende a estender sua influência cada vez mais no meio acadêmico: o poder do mercado. Os comerciais das universidades privadas, por exemplo, sempre associam seu ensino a essa bandeira, no interesse de atrair os jovens, que por sua vez buscam perspectivas de vida perante a nova organização da sociedade contemporânea.
Nesse momento, pode-se ter a impressão de que a adequação da universidade a essa lógica seria, portanto, a forma natural de se reafirmar seu sentido perante a sociedade. E por que não? Não, porque tal processo banalizaria o papel da universidade, reduzindo-a a mera produtora de riquezas e idéias limitadas e comprometidas com uma lógica demasiado particular: a lógica da mercadoria, em dentrimento de um projeto muito mais profundo e de todo um restante espectro de possibilidades: humanistas, políticas, sociais, filosóficas, científicas, etc. O mercado seria uma delas, mas não a única e nem demasiado preponderante. Temos de um lado um projeto de universidade acrítica, unilateralmente direcionada: com interesses privados. Temos de outro lado um projeto de universidade crítica, com liberdade de pesquisa, ensino e extensão e voltada para os interesses públicos. Nenhum dos dois projetos está ainda plenamente materializado. "O mundo não é, o mundo está sendo", já dizia Paulo Freire. Pode-se entender a USP, enquanto universidade e instituição social, como o resultado do encontro dessas tendências, na forma concreta de conflitos desses interesses. De um lado, a bandeira utópica da "autonomia universitária" e de outro os interesses pragmáticos e imediatos de uma sociedade pressionada pela lógica da produção e, por vezes, interesses privados de segmentos poderosos. Assim, a USP é uma universidade mantida pelo imposto público, mas tem tido dificuldades de se democratizar. Seus cursos de graduação são gratuitos, mas seu relacionamento com fundações privadas, que oferecem cursos e serviços pagos, é obscuro e objeto constante do debate e das lutas políticas no seio da comunidade acadêmica.
Esta introdução não contempla ainda todas as dimensões do conflito, mas permite vislumbrar por que o debate em torno dos decretos de José Serra trouxe tanto alvoroço: os decretos visam a manipular o orçamento das universidades. Num movimento recente, nesse tabuleiro de xadrez, no dia 30 de maio, através de um inédito "decreto declaratório", Serra recuou bastante, cedendo às pressões dos movimentos estudantis, embora oficialmente estivesse apenas "prestando esclarecimentos". Mas vamos voltar ao foco de nosso artigo e iniciar a análise astrológica do momento da ocupação, por parte dos estudantes, da Reitoria da USP, centro do poder dirigente da universidade.
Figura 1: Horóscopo da Ocupação da Reitoria da USP:
03 de maio de 2007, São Paulo, 17h30min
Um ato súbito
É fato notável que não era, no dia 3 de maio, intenção dos estudantes ocupar a reitoria da USP quando para lá se dirigiram. Os estudantes haviam marcado uma audiência aberta com um representante da Reitoria, que não compareceu. Eles queriam, nessa reunião, exigir um posicionamento da reitora com relação aos decretos de Serra. Depois do "bolo", decidiram ir, já indignados, para a Reitoria. Assim, eles queriam apenas entregar uma pauta de reivindicações. No momento em que a segurança do prédio fechou as portas, houve revolta e eles decidiram forçar a entrada e ocupar o prédio, por volta das 17h30min. Foi, portanto, um ato súbito e sem planejamento prévio. A análise astrológica demonstrará que a Ocupação surgiu como um sopro, que tinha um direcionamento muito preciso, e que aqueles 300 estudantes terminaram por fluir através de uma brecha muito bem definida no tempo, dentro daquele modo súbito de agir.
Apesar da banalização promovida por quase a totalidade da imprensa na cobertura dessa ocupação, os estudantes foram capazes de catalisar o movimento grevista na universidade e influenciar diversos outros movimentos universitários em todo o país. Receberam moções de apoio de movimentos estudantis de diversos pontos de São Paulo, do Brasil, da América Latina e da Europa. Trata-se de um alcance bastante curioso de uma Ocupação tão espontânea.
Um simples primeiro contato já denuncia de imediato a riqueza e a grande quantidade de energia armazenada no horóscopo levantado (figura 1) para a Ocupação. Em particular, o caráter súbito da decisão de forçar a entrada está claramente indicado pela ênfase de aspectos que recai sobre Marte-Urano. Marte, o planeta da luta e da ação, em conjunção com Urano, o planeta da inspiração e excitação súbitas. Os estudantes tentaram arrebentar um vidro blindado sem sucesso, depois entortaram uma grade e estouraram outro lance de vidros. Um jornalista ironizou o "arranjo" formado pela grade, dizendo que agradaria os professores de artes plásticas da universidade.
Urano é um planeta importantíssimo nas agitações políticas coletivas, exploraremos esse ponto mais adiante.
Captando as tensões do céu de maio
Há duas quadraturas T no mapa envolvendo nove dos dez planetas do horóscopo. Esse fato traduz claramente (e mais uma vez) a qualidade de tensão e excitação do momento, refletido no céu do dia 3 de maio. Essas quadraturas podem refletir não apenas um grande encontro de neuroses entre os envolvidos na ocupação, mas também o grande potencial criativo do movimento iniciado dentro dessa reitoria. A oposição entre Vênus e Plutão e a colocação de Vênus na casa 8 indicam os fortes vínculos emocionais decorrentes das interações sociais dentro da reitoria ocupada. Acidentalmente, a reitoria ocupada acaba se tornando também um espaço de socialização dos estudantes. A oposição Vênus-Plutão indica que essa dimensão social é muito forte e que o aspecto afetivo dos encontros das pessoas é firme e penetrante: se duas pessoas se apertam as mãos, isso não é mero formalismo, mas o aperto de mão é firme e não há banalização na troca dos olhares. Pelo menos do ponto de vista afetivo e emocional, no que diz respeito à vida social na Ocupação, a seriedade do vínculo coletivo é assegurada por essa oposição. Já do ponto de vista político, Plutão denuncia uma alta sensibilidade dos membros da Ocupação às questões do poder, em suas relações interpessoais.
Ética, Justiça e Autonomia Financeira
Essa mesma Vênus está oposta também a Júpiter, cuja simples colocação dentro da casa dois (bens e finanças) já seria suficiente para apontar a vocação do movimento quanto às questões éticas e jurídicas envolvendo os bens e as questões financeiras da universidade. A presença de Plutão nessa mesma casa 2 indicaria o medo dos estudantes de que uma força sinistra, autoritária e poderosa surgisse "das profundezas" (nesse caso: do alto, do poder governamental) e usurpasse os bens da universidade. Nesse ponto, vale lembrar a questão da "autonomia financeira" da universidade, textualmente ameaçada pelos decretos originais de Serra: um dos argumentos centrais dos estudantes era a inconstitucionalidade dos decretos.
Endurecer, mas sem perder a ternura
Uma configuração particularmente preocupante envolve a décima casa do mapa da Ocupação: aquela que diz respeito à imagem pública do movimento. Ali encontramos o planeta Saturno, com sua rigidez e peso alquímico do chumbo. Na melhor das hipóteses a imagem pública do movimento é de seriedade e solidez. Na pior das hipóteses, o movimento aparece como rígido em suas posições, autoritário, engessado, teimoso. Que, aliás, é justamente a imagem que muitos possuem do marxismo. A imprensa de direita e contrária ao movimento vem investindo na idéia de que o movimento não está aberto ao diálogo (Capricórnio está na cúspide da casa 3, a da comunicação), que, do ponto de vista saturnino, se encaixaria realmente melhor à realidade desse mapa. O movimento estudantil, por sua vez, deve tomar muito cuidado com suas possíveis posturas rígidas, que é de fato uma tendência do movimento indicada pela posição de Saturno e que facilmente "pegaria" como imagem pública. O que parece, de fato, é que tanto o movimento quanto as autoridades querem impor suas próprias formas de negociação. E aqui ficamos à mercê das nebulosidades políticas: as "análises" tendenciosas da grande imprensa são quase inúteis e, para os ingênuos, perigosas. E mesmo as análises de especialistas e juristas nunca estão livres de suas próprias concepções e profundidades políticas (a mera análise técnica, por exemplo, é insuficiente para uma visão completa). E o mesmo deve valer também para as análises astrológicas.
Um dos pontos agudos, por exemplo, em que as faces de Saturno se confundem é a questão da insistência dos estudantes em permanecerem na Ocupação, mesmo sob ameaça da vinda da Tropa de Choque. Alguns professores da universidade lêem esse posicionamento segundo a face maléfica de Saturno: consideram os estudantes intolerantes, rígidos e interessados num confronto alucinado. Outros, no entanto, fazem uma leitura mais positiva e vêem nisso a seriedade saturnina do movimento: o jogo político de uma resistência perante o Estado, enquanto se tenta avançar nas negociações. Veremos mais adiante que a segunda leitura mostrou-se particularmente válida, já que a resistência, até a altura de um ciclo da Lua, foi bem sucedida.
Ascensão e Queda?
Apesar das conquistas e vitórias do movimento estudantil até aqui, vale lembrar que alguns astrólogos costumam considerar a posição de Saturno de décima casa como indicadora de "ascensão e queda". Segundo essa concepção, podemos imaginar o movimento de ocupação crescendo de forma decidida e ambiciosa, mas como a energia não duraria para sempre, assistiríamos a uma queda estúpida, graças à inflexibilidade de Saturno, nesse caso agravado pela quadratura a um Sol taurino, signo de visão estreita (Adolf Hitler tinha uma quadratura idêntica em seu mapa natal). Seria um temível fim para o movimento estudantil dessa Ocupação, mas que ainda assim não minaria as novas idéias que estão sendo, nesse momento, plantadas na cultura do movimento estudantil. Voltarei a essa questão mais adiante.
Utopia e Pragmatismo
Não podemos deixar de analisar em Saturno sua oposição a Netuno, o planeta idealista e das utopias, que está na quarta casa, das raízes históricas do movimento. Netuno é um planeta de anseios sociais e coletivos. O marxismo é uma influência certa aqui. Saturno, ao contrário de Netuno, é um planeta pragmático e concreto, que busca uma realidade sólida e palpável. A oposição de Netuno a este planeta indica então o conflito entre os ideais e as utopias e a realidade pragmática. O anseio do movimento seria, assim, a de resolver esse conflito. Essa oposição imbica na quadratura T com o Sol no materialista signo de Touro, na cúspide da casa 7, uma casa de conciliação e de negociações, funcionando como vértice daquele conflito entre Netuno e Saturno. Esse Sol me traz a imagem de um boneco cujos membros estão sendo puxados em direções irreconciliáveis e que tende a se estilhaçar. Não sei se a solução para o conflito agudo está no universo de possibilidades do movimento e acredito que a flor que irá nascer nesse asfalto cruel não estará nem na rua e nem na calçada: talvez ela cresça dentro de um bueiro, e acredito que ainda assim ela encontrará lugar ao Sol. No momento em que escrevo, nem pensei em associar a metáfora ao Sol da casa 7, mas a metáfora até que serviu e acabou caindo bem.
A Justiça: uma balança a favor?
Não sei se devo fazer alarde em relação ao otimismo desse aspecto, mas o trígono exato entre Saturno e Júpiter pode ser muito favorável ao movimento. Júpiter está, além de tudo, domiciliado em seu próprio signo, o que torna o trígono Júpiter-Saturno algo realmente favorável: traz um aguçado senso de Verdade e de Justiça aos estudantes envolvidos na Ocupação. Nesse contexto, a inconstitucionalidade dos decretos de Serra é flagrante: primeiro, o texto original de Serra era nebuloso e não fazia menção à autonomia universitária garantida pela Constituição. Em segundo lugar, a criação de uma Secretaria do Ensino Superior, que por si só, já é altamente polêmica, criada pelo artifício legal da mudança do nome da Secretaria de Turismo, é igualmente inconstitucional. Mas apesar das brechas legais utilizadas pelo governador, o trígono favoreceria a mobilização judicial dos estudantes. No entanto, como o trígono se dá com o pragmático Saturno, creio que os estudantes estão subestimando as vias legais formais, que deveriam ser mais exploradas, e não apenas a mobilização da Ocupação em si. Esse, aliás, é um interessante exemplo de como, assim como um indivíduo, um movimento tende a negligenciar muitas vezes seus próprios "dons especiais" indicados pelos trígonos.
Problemas com a autoridade
Conflito de 1968 entre estudantes da USP e da Universidade Mackenzie. O movimento estudantil da USP tem uma longa trajetória de luta.
Já as quadraturas, por outro lado, parecem captar mais as energias dos estudantes: enfatizando o briguento Marte de casa 5, conjunto ao Urano rebelde, e o confronto declarado (casa 7) com o Sol conjunto ao Descendente. A quadratura Sol-Saturno indica a tensa relação do movimento com as autoridades e as dificuldades de negociação, que provavelmente se refletem não apenas em Serra, em Pinotti (Secretaria do Ensino Superior, recém-criada) e na reitora da USP, Suely Vilela, mas também na negação dos estudantes em serem representados ou influenciados pelo próprio DCE estudantil e também por partidos como o PSTU e o PSOL, que sempre atraíram estudantes de esquerda da USP. O termo "estudantes independentes" (isto é, não ligados a partidos políticos), que já era usado em outras greves da USP, está agora mais forte do que nunca. A tentativa desses partidos em influenciar os rumos do movimento e da Ocupação tem sido bastante reprimida pelo coletivo dos estudantes mobilizados independentes. Tais características, e ainda outras, do movimento têm levado jornalistas a indicarem um "novo movimento estudantil".
Um Novo Movimento Estudantil?
Figura 2
Sétimo harmônico (mapa H7) do horóscopo da Ocupação
(mostrado na figura 1).
Urano está em oposição exata a Netuno neste mapa:
fortes traços idealistas de um novo movimento.
Mas o que me leva a crer que, independentemente de qualquer resultado desse movimento, teremos novas e profundas idéias plantadas na cultura universitária e no movimento estudantil? Sem dúvida, a oposição Saturno-Netuno é muito significativa. Bem como a força agressiva da conjunção Urano-Marte e sua captação súbita, como vimos. Tão súbita que chamou a atenção (ainda que sutilmente) de toda a imprensa que cobriu o assunto. Mas uma parte importante da resposta está numa análise de Astrologia Harmônica, aquela que procura ampliar os ângulos menores do mapa, com especial interesse em polígonos cujos números de lados são primos. Particularmente o sétimo desses mapas harmônicos (H7) traz uma oposição exata entre Urano e Netuno, denotando as fortes correntes coletivas presentes no céu do dia 3 de maio e que foram claramente "captadas de súbito" (Marte-Urano) pelos trezentos estudantes, que nem sequer pretendiam ocupar a reitoria, a princípio. A "energia" apresentada pelo horóscopo da figura 1 era tão significativa que simplesmente não passou "batida" pelo coletivo naquele momento. Durante o mês de maio vários movimentos sociais irromperam, provavelmente sob alguns desses mesmos traços celestes do dia três, inclusive a oposição Urano-Netuno do mapa H7.
A imprensa tem relatado a presença de cardápios vegetarianos dentro da Ocupação, bem como a presença do movimento negro. Outra observação interessante relatada pela jornalista Laura Capriglione, da Folha de S.Paulo, é o hábito que os estudantes cultivam de levar as mães para visitarem a reitoria ocupada. Às vezes, irmãos mais novos, especialmente no dia das mães, nesse mês de maio, para o qual foi produzido, pelos estudantes-ocupantes, dentro da reitoria, um vídeo, divulgado no YouTube.
Será que essas idéias marcarão os novos traços do movimento estudantil? Os horóscopos apresentados aqui indicam que sim. Mas também não creio que se deva fazer muito alarde a esse respeito: a semente ainda tem muito que crescer e, daqui a algumas décadas, apenas uma análise sutil do que está acontecendo hoje será capaz de detectar que essa pequenina planta estava, nesse momento atual, começando a sentir a presença da luz e a se orientar no espaço. Acredito que quando a planta estiver mais desenvolta e suas folhas estiverem mais nítidas nós perceberemos uma renovação do próprio marxismo, que provavelmente será uma subversão de seus valores para os marxistas mais ortodoxos. Claro, não creio que esta será a única dimensão das implicações do crescimento dessa planta, apenas fiz um recorte de interesse.
Alguns ciclos astrológicos da Ocupação
No dia 16 de maio, quando a Lua em trânsito fizera oposição exata à Lua natal da Ocupação, indicando um momento crucial na trama dos eventos, um oficial de Justiça entregou aos estudantes o documento de Reintegração de Posse, solicitada pela universidade. Desde então os estudantes passaram a aguardar a "visita" do Choque da Polícia Militar, e, em frente à reitoria, o que antes eram dois carros da imprensa passaram a ser vários, e também vários furgões bem equipados de diversos setores da imprensa: rádio, impressos e da TV. Estava tudo pronto para o "show".
Ora, se a semicircunferência do ciclo lunar marcou um momento de alta tensão para o movimento estudantil, então seria de se esperar que a circunferência completa marcasse o resultado final de um ciclo e um momento de relaxamento nessa lógica. De fato, 27 dias depois, no dia 30 de maio, a Lua retornou ao ponto original do dia 3 de maio. E nessa data aconteceu justamente uma importante vitória do movimento estudantil: a publicação do Decreto Declaratório número 1, pelo governo Serra. Oficialmente foi apenas um "esclarecimento", mas todos os intérpretes de esquerda, da conjuntura efetiva da disputa política entre estudantes e governo, foram unânimes em reconhecer aí um grande recuo por parte de Serra, que, nesse documento, abriu mão (pelo menos por agora) de alterar a estrutura de funcionamento das universidades. É curioso observar que o estudo do movimento da Lua nos revela claramente quais eram as partes envolvidas na luta política em questão. Assim, esse estudo mostra-nos que a freqüente tentativa dos meios de comunicação de massa para banalizar o movimento estudantil, esvaziando o seu sentido político, é não apenas imbecil, mas mostra também que a imprensa de massa executa, em muitos casos, exatamente o oposto daquilo que ela promete: ao invés de informar, ela ou deforma ou faz a propaganda de seus interesses sob o pretexto de estar noticiando fatos. E, quem diria, a Astrologia, a quem atualmente se atribui pouca credibilidade "acadêmica", mostra-nos de forma simples e direta a verdadeira conexão dos fatos que, curiosamente, coincide com a leitura que a própria esquerda faz dos fatos que se sucederam. Não creio, no entanto, que leituras astrológicas favoreceriam sempre os pontos de vista da esquerda, mas, no ponto particular em estudo, esse fato é tão nítido quanto um céu sem nuvens. Por outro lado, a direita parece acertar, por exemplo, quando rotula o movimento na Ocupação de inflexível, como comentei anteriormente, falando de Saturno.
O Ascendente em Escorpião da Ocupação
Nos mapas astrológicos de países e nações, o Ascendente costuma revelar como sua população parece, digamos, aos olhos de um visitante. Os estudantes da Ocupação são, como diz a imprensa de direita, "um grupelho" de "falsos estudantes". Deixando de lado certos preconceitos, poderíamos nos perguntar: de que maneira parece a Ocupação aos olhos de um visitante? Já discutimos a imagem pública do movimento (casa 10), mas note-se que visitar pessoalmente a Ocupação é, do ponto de vista da Astrologia, diferente da "imagem pública", por exemplo, através da imprensa. Quando lemos mapas astrológicos de pessoas, de indivíduos, o Ascendente em Escorpião costuma indicar uma pessoa reservada, forte, firme, auto-suficiente, misteriosa, magnética. A Ocupação representa um espaço tão reservado que a imprensa foi proibida de entrar lá e o acesso foi controlado (palavra-chave de Escorpião): só entra com carteirinha de estudante. Os jornalistas que conseguiram furar o bloqueio relataram depois que não era tão fácil permanecer lá dentro. Os militantes de partidos políticos infiltrados para executarem os planos maiores de seus partidos também encontraram resistências, e houve toda uma campanha contra esse tipo de "manobras políticas". Pelo Ascendente em Escorpião e pela quadratura Sol-Saturno, podemos ver que os estudantes da Ocupação são muito sensíveis a qualquer forma de controle, manipulação (Escorpião) ou autoridade (Saturno). E é, de fato, bastante curioso observarmos um encontro que existe entre o Escorpião ascendente da Ocupação e o Saturno da reitora Suely Vilela.
O Escorpião na carta astrológica da reitora
A atual reitora da USP, Professora Suely Vilela, tem sido muito criticada pelos professores de direita da universidade. Alguns deles acreditam que a reitora deveria ter tido "pulso firme" para reprimir os estudantes ocupantes, forçando a chegada do Choque da Polícia Militar, o quanto antes. Os estudantes de esquerda, muitos deles, manifestam ódio pela reitora pelo simples fato de ela representar a autoridade que representa, o que também é um erro que infelizmente faz parte da "cegueira" tão freqüente no movimento: confunde-se a luta política com a luta personalizada, o que é lamentável.
A reitora Suely Vilela é farmacêutica de formação, seus estudos de pós-graduação e de livre docência dirigiram-se para o estudo de toxinas e de venenos de cobras e escorpiões. A relação astrológica aqui é direta e literal: parece-me que há séculos a tradição astrológica vem associando os venenos ao signo de Escorpião. Assim que li o currículo Lattes da reitora na internet, esperava portanto que esse signo pudesse talvez exercer importante papel em sua carta astrológica. Não foi encontrado nada que fosse assim tão notável, embora o desconhecimento do horário de nascimento não nos permita a análise completa. De qualquer forma, o que se encontrou será suficiente para verificarmos o rigor do vínculo que há entre o horóscopo da Ocupação e a posição dos planetas da reitora.
As fontes disponíveis não eram muito seguras, mas parece que a reitora nasceu em 22 de fevereiro de 1954, na cidade mineira de Ilicínea (o nome da cidade vem de Ílice, do latim Ílex, e se relaciona a certos nomes de plantas da região). A carta de José Serra (19 de março de 1942, 2h - São Paulo - SP) está disponível no sítio de Constelar e a data de nascimento de Pinotti (20 de dezembro de 1934) foi obtida de recente edição do Jornal do Campus da USP.
Figura 3
Sinastria: o mapa interno é da Ocupação.
A carta externa é da Profª. Suely Vilela (reitora) — 22.02.1954,
na cidade de Ilicínea — MG, sem horário,
com a Lua ajustada para o meio-dia.
Verificamos, assim, a posição de Saturno na carta levantada para a reitora, no signo de Escorpião, o que é conveniente, já que Saturno é um planeta de alta vocação científica. A oposição Sol-Plutão também reforça os valores de Saturno em Escorpião, mas, face à carreira científica da reitora, podemos supor a importância de Saturno em seu horóscopo, a despeito de ignorarmos o horário de nascimento. Tudo isso se torna bastante curioso quando observamos que o Ascendente do mapa da Ocupação coincide com a posição do Saturno em Escorpião da reitora. Ora, como o Ascendente indica a presença física e o nascimento de um ser, concluímos que a Ocupação, no sentido físico do termo, é o que sensibiliza a autoridade (Saturno) da reitora. Por outro lado, é notável que os Saturnos tanto de José Serra quanto de Pinotti são afetados simultaneamente pela Lua da Ocupação. Ora, essa Lua indica, não a ocupação física, mas os próprios estudantes ocupantes. A leitura que se faz então é esta: a dor-de-cabeça da reitora surge (especialmente) com o próprio evento físico da ocupação, enquanto, para Serra e para Pinotti, o incômodo está nos estudantes. Temos aqui uma sutil e básica diferença da aplicação dos pontos de força entre as partes envolvidas no conflito, que também se encontra curiosamente desenhada com precisão pela comparação dos mapas astrológicos das partes envolvidas. Essa diferença, por ser tão básica, dificilmente seria ponto de indagação, dessa maneira, em outros tipos de análises (não-astrológicas), mas aqui acaba aparecendo de forma rigorosa, curiosa e com um jeito todo próprio da Astrologia. É curioso notar também que o mapa da reitora está mais envolvido com o mapa da Ocupação do que o mapa de Serra ou de Pinotti. Mas é, sem dúvida, bastante interessante observar que os mapas das partes envolvidas nos conflitos, estão longe de se relacionarem de modo arbitrário. Ao contrário: guardam uma relação precisa entre si.