PUC-SP: invasão da Polícia em 1977 às Carteirinhas em 2007

Brasília 17 — 12-dez-2007

Ao final do ano passado o CECOM (conselho comunitário), órgão responsável pelas normas de convivência interna da PUC-SP, decidiu por unanimidade a implementação de uma “política de identificação nos campi” da universidade, o que em linguagem mais vulgar quer dizer a implementação de carteirinhas e possivelmente também das catracas. A medida agora só precisa ser aprovada na estância do conselho universitário (CONSUN).

À revelia de todo restante da comunidade puquiana, e contra seu próprio discurso na época das eleições para reitores, a reitora Maura Véras, agora parece achar razoável a aplicação de medidas repressoras. Em um dos debates para reitores a atual gestão chegou a ser questionada por um estudante quanto ao seu posicionamento sobre as catracas e câmeras de segurança, e a resposta foi clara, Maura se posicionou contrária a qualquer medida de segurança que vigiasse a comunidade.

As carteirinhas estão em pauta e serão mais uma forma de coerção, que juntamente com as câmeras já instaladas e a segurança terceirizada, passam a fazer a vigília da entrada, saída e permanência do estudante dentro da universidade. Semana passada foi retirado o direito dos inadimplentes de assistir às aulas — chegando até a ameaçar os professores e funcionários que permitissem que isso acontecesse —, há muito tempo foi proibido aos estudantes a realização de qualquer tipo de festa, colagem de cartazes e panfletagens dentro do campus; ao passo que os bancos panfletam livremente suas propagandas, seus banners também são vistos em todo e qualquer lugar, e as comemorações, incluindo bebidas alcoólicas (sempre usadas como desculpa para a proibição de festas estudantis) da reitoria são sempre muito bem vindas.

As carteirinhas vêm na contramão do modelo de universidade que queremos. A livre manifestação estudantil, as idas e vindas e a livre produção universitária sempre foram princípios que a PUC tentou preservar em toda sua história.

As invasões à PUC

Em setembro de 1977 a reitoria da PUC chegou a autorizar a realização em suas dependências de um Encontro Nacional dos Estudantes proibido pelo governo militar, que foi um momento fundamental no processo de refundação da UNE. E foi no ato de comemoração da realização desse encontro que aconteceu a invasão da polícia ao campus da Monte Alegre. Segundo relatos do DCE da PUC na época, a polícia adentrou o campus por todas as entradas espancando estudantes, professores e funcionários, além de arrombar e destruir os centros acadêmicos. Naquele dia foram presos e levados ao DOPS quase mil estudantes.

Ao que consta, a invasão havia sido premeditada pelo Cel. Erasmo Dias, e o ato público fora somente um pretexto para justificar a invasão. O real motivo da represália estava na realização do III ENE — que marcava o confronto direto com o regime militar através da reorganização estudantil —, além da represália contra a própria reitoria da PUC-SP, que se caracterizava pela independência frente às pressões do regime militar e que já havia enfrentado o regime ao abrigar a proibida 29a reunião anual da SBPC (sociedade brasileira para o progresso da ciência), que defendia a autonomia universitária.

Concluindo um documento redigido um dia após a invasão, o DCE-LIVRE da PUC declarava que nenhuma intimidação policial os faria deixar de lutar pelas liberdades democráticas. E foi assim, com essa tradição de embate diante do regime militar, que a PUC foi se consolidando como uma universidade de grande importância na esquerda brasileira. E foi assim também que se consolidou a proibição da entrada da polícia civil nos campi da universidade.

Mas em 1977 não foi definitivamente a última entrada da polícia no campus da monte alegre. Recentemente, em setembro de 2005, através de uma violência velada e afirmando estar ajudando a estabelecer a ordem, a polícia adentrou o campus para prender um estudante que, supostamente, estaria fazendo tráfico de drogas dentro da universidade. E desta vez, a tradição de sempre estar ao lado dos estudantes e de suas mínimas liberdades democráticas caiu de vez por terra. A reitoria imediatamente após o ocorrido lançou mão da política das carteirinhas de identificação, que sabemos, são as primeiras formas de coibir a livre circulação dentro do campus.

É preciso ir contra, é preciso se manifestar

Contrariando todo histórico de luta que a PUC um dia travou, vemos hoje uma reitoria que a cada dia reprime mais e mais os estudantes, professores e funcionários.

As carteirinhas juntamente com todas as últimas medidas para cercear os estudantes estão levando a PUC a ser mais uma das universidades-shopping que vemos por todo o país. Se hoje os estudantes estão proibidos de panfletar, colar cartazes e até de fazer atividades culturais, amanhã estaremos proibidos de entrar na universidade. E, assim, sempre com a desculpa de que somente pretendem garantir um bom funcionamento da universidade, vão pouco a pouco castrando toda livre criação que já foi um grande mérito da PUC-SP.
Para combater a repressão que nos é imposta lançamos um comitê local que discute e tira ações para organizar os estudantes. Nossa última atividade, no ano passado, foi uma cervejada com pixações. As pixações “é proibido. a gente faz.” e “pela livre manifestação”, tiradas numa reunião do comitê, tinham como objetivo protestar contra a retirada e proibição de colagem de cartazes, proibição de panfletagens e proibição de qualquer atividade cultural dentro do campus. A retirada de 50 cartazes produzidos pelo comitê, que foram arrancados de um dia para o outro, foi o estopim.

Para combater toda a repressão que se anuncia a cada dia é preciso se organizar, e o comitê da PUC se reunirá semana que vem para iniciar as discussões e atividades de 2007.

Unless otherwise stated, the content of this page is licensed under Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 License