Jornal da UFLA, 12 de março de 2008
Por Teotonio Soares de Carvalho e Felipe Monteiro Silva
Este documento tem como objetivo relatar os fatos ocorridos no último final de semana (08 e 09 de Março de 2008) no alojamento universitário misto da universidade, bem como esclarecer alguns fatos que foram muito mal interpretados.
Na noite do último sábado, dia 08 de Março de 2008, dois representantes da prefeitura do alojamento misto (Teotonio Soares de Carvalho e Felipe Monteiro Silva) estavam presentes no prédio do alojamento quando, em virtude de uma denúncia de trote, a presença dos mesmos foi solicitada na portaria pela segurança interna da universidade.
Foi relatado pela possível vítima de trote que, na mesma noite, cinco moradores do alojamento adentraram o local onde estavam hospedados os “calouros”, e segundo ele, haviam estes o agredido e humilhado.
Tendo o conhecimento dos acusados, cujo histórico de conduta não condiz com a denúncia, um dos prefeitos os procurou para ouvir a versão dos mesmos em relação ao ocorrido. Em seguida foi procurado pelo mesmo prefeito outro “calouro” que estava presente no recinto no momento em que ocorrera o incidente e que afirmou não ter ocorrido qualquer ato que pudesse ser considerado trote. A partir dos dados colhidos de ambas as partes, a prefeitura chegou à conclusão de que tudo não passara de um mero mal entendido.
Dado que os acusados estavam dispostos a se esclarecerem perante a vítima e às autoridades presentes (representada pela segurança interna), tentou-se, por meio da prefeitura do alojamento, estabelecer um contato com a parte reclamante. Não obstante a insistência na solicitação deste contato por parte da prefeitura, a segurança mostrou-se inexorável em permiti-lo, alegando que isto comprometeria a segurança do “calouro”. Além de impedir uma resolução simples do mal entendido, a postura desrespeitosa tomada pela segurança colocou em questão a credibilidade da prefeitura do alojamento.
Na manhã do dia seguinte a prefeitura novamente tentou estabelecer um contato entre as partes, sendo barrada mais uma vez pela segurança do campus. A aparente grande proporção do caso, oriunda dos excessos por parte da segurança, causou entre os moradores uma grande repercussão, que culminou na manifestação realizada pelos estudantes na noite do mesmo dia, cujo principal objetivo foi a descaracterização da recepção de “calouros” feita no alojamento como trote.
Visando a demonstrar não haver qualquer constrangimento ou humilhação nos tradicionais atos de recepção aos recém-chegados, os moradores solicitaram aos “calouros” que aplicassem a mesma brincadeira aos “veteranos”, invertendo assim os papéis.
Estudantes, que em virtude da postura coerciva dos seguranças preferiram não identificar-se naquele momento, dirigiram-se aos mesmos, que se encontravam parados na portaria do alojamento, para informar-lhes da natureza pacífica e do objetivo da manifestação, que não envolvia aplicação de trotes aos “calouros” ou depredação de patrimônio público. Após a solicitação pelos estudantes para que o ato fosse registrado como uma manifestação pacifica, os mesmos se uniram aos demais.
Sob pedido dos prefeitos do alojamento (Teotonio Soares e Felipe Monteiro), que estavam presentes durante toda manifestação sem, contudo, liderá-la, em nenhum momento algum objeto foi arremessado sobre as autoridades. Ainda sob a súplica dos mesmos, não foi aplicado trote a nenhum calouro bem como não houve depredação do patrimônio público, como é obviamente perceptível a qualquer um que deseje verificar.
Por volta das dezenove horas e trinta minutos, duas viaturas (um pálio e uma blazer) da PMMG chegaram ao local em que estavam paradas as viaturas do SOSP, ou seja, na guarita do alojamento. Ao contrário do que foi relatado na carta publicada no site da universidade, nenhuma tentativa efetiva de contato foi feita por parte da PMMG com os moradores do alojamento anteriormente à invasão, que foi anunciada apenas no momento de sua execução através de um mega-fone utilizado pelos policiais. Inicialmente, duas bombas de efeito moral foram lançadas para dentro das dependências do alojamento (especificamente em frente aos apartamentos 110 e 112). Ao perceber a invasão policial, os estudantes que se encontravam nos corredores dirigiram-se aos seus respectivos apartamentos, sem em nenhum momento confrontar os policiais, a despeito do que é referido na inverossímil versão da segurança.
Mais uma vez, ao contrário do que foi relatado pela equipe da SOSP, e conforme pode ser testemunhado por diversos estudantes que presenciaram a ação policial, muitos abusos e cenas de desrespeito aos estudantes ocorreram mesmo após o final da manifestação, entre os quais se destacam: o ato de apontar e encostar uma arma em um estudante, a invasão de certos cômodos, a inspeção não autorizada pelos estudantes feita pela PMMG em alguns apartamentos, e até mesmo a agressão moral a vários estudantes através de vocábulos por cujo baixo calão preferimos não mencioná-los.
Diante dos fatos expostos neste documento, de cujas dezenas testemunhas poderemos nos valer se necessário, chega-se à conclusão de que:
- Existe um despreparo muito grande da SOSP no que tange ao correto tratamento em relação aos estudantes;
- A intervenção policial no campus, principalmente para conter manifestações estudantis, é completamente inapropriada em virtude da natureza coerciva da polícia, o que nos relembra a ditadura militar;
- Como pôde ser observado pela recepção pacífica dos estudantes à invasão policial, fica claro que as medidas tomadas foram excessivas e precipitadas;
Em nome dos moradores do alojamento misto da UFLA, pelos quais fomos eleitos prefeitos e com os quais indubitavelmente podemos contar para testemunhar os relatos presentes neste documento, testificamos que são verídicos os fatos aqui descritos e esperamos que sejam tomadas as devidas providências.
Atenciosamente,
Teotonio Soares de Carvalho
Prefeito do Alojamento Misto da UFLA
Felipe Monteiro Silva
Prefeito do Alojamento Misto da UFLA